Gosto de desenho animado. O gosto vem dos tempos onde cinema ainda não existia na minha vida, tempo em que as histórias eram contadas e os personagens ganhavam vida em minha imaginação. Sempre gostei das histórias infantis. Uma das que mais gosto/desgosto é a de João e Maria, perdidos na floresta por conta da idéia terrível da sua mãe. Me faz tremer o choro amedrontado de Maria na floresta escura. Enquanto relembro estas coisas me dou conta dos meus próprios medos.
Medos que foram sendo substituídos. Foram assumindo novas caras. É o mesmo velho medo se reciclando, se re-significando. Me dei conta que meu maior medo já não é o lobisomem, como nos anos da minha infância, quando o uivo canino me fazia tremer debaixo da coberta, nas madrugadas que antecediam a sexta-feira santa.
Meu maior medo é semelhante ao de João e Maria é o medo de me perder, de não mais me encontrar. É o medo de me perder de mim mesmo. Tenho medo de um dia meu corpo e minha alma se divorciarem, numa contenda irreconciliável. Tenho medo que o meu corpo acostumado aos lugares de sempre, preocupado em me agradar, em obedecer as regras e satisfazer pessoas me faça habitar o mesmo lugar, a mesma tenda, a mesma casa, a mesma floresta. Morro de medo de me acostumar, de não me incomodar, de achar que já cresci tudo que tinha para crescer e ser tentado a pensar que encontrei um lugar largo o bastante onde posso regalar-me e descansar em paz. Morro de medo de me olhar no espelho e não me reconhecer, de sentir saudade de mim. Tenho medo de temer recomeçar. Morro de medo de ficar previsível, de só fazer o esperado, de não surpreender. Morro de medo de ser o mesmo homem entrando duas vezes no mesmo rio.
Mas também tenho medo da minha alma aventureira decidir embarcar numa aventura desvairada, de se apaixonar pelo exótico, pelo perigoso. Temo que ela se encante com o impossível, o inatingível, o inalcançável e ela perambule pela vida, tal qual o louco que perdeu o juízo por um amor impossível. Meu corpo estremece só de pensar.
Vivo como os meninos (João e Maria) temeroso pela noticia que acabaram de ouvir, de que serão deixados perdidos na floresta escura. Mas talvez o gosto/desgosto por este conto seja porque virá dele a senha que me fará me reencontrar, que lançará fora o medo, assim como João e Maria, caso um dia seja banido de mim mesmo. Talvez porque acredite que a minha alma subversiva, que se recusa a ser aprisionada, deixe ao longo da estrada as pedrinhas brancas, no caminho para a liberdade, onde a vida, dinâmica, teima em se reinventar. Talvez porque meu corpo esteja alerta por temer que a senha no caminho seja comida pelas aves e continue pra sempre perdido.
Mas gosto também porque embora apavorados pela notícia, pelo mal que se aproxima eles não se paralisam, não se queixam da vida, antes se põem em prontidão, agem. Se permitem a aventura, mesmo temendo. Entram na floresta escura, sem saber ao certo o que lhes espera, embora as perspectivas não sejam muito boas, esperando reverter a sorte. Gosto porque nela há espaço para o arrependimento de quem permite a maldade, porque nela existe a chance de recomeçar, de refazer, de volta a ser. Gosto porque apesar da mãe com coração de madrasta, tem um pai de coração maternal, o que me faz acreditar que apesar de toda maldade, até por parte das pessoas mais próximas, a bondade poderá vir de onde menos se espera. E na bondade os medos se vão, a morte cessa e a vida se refaz...
Medos que foram sendo substituídos. Foram assumindo novas caras. É o mesmo velho medo se reciclando, se re-significando. Me dei conta que meu maior medo já não é o lobisomem, como nos anos da minha infância, quando o uivo canino me fazia tremer debaixo da coberta, nas madrugadas que antecediam a sexta-feira santa.
Meu maior medo é semelhante ao de João e Maria é o medo de me perder, de não mais me encontrar. É o medo de me perder de mim mesmo. Tenho medo de um dia meu corpo e minha alma se divorciarem, numa contenda irreconciliável. Tenho medo que o meu corpo acostumado aos lugares de sempre, preocupado em me agradar, em obedecer as regras e satisfazer pessoas me faça habitar o mesmo lugar, a mesma tenda, a mesma casa, a mesma floresta. Morro de medo de me acostumar, de não me incomodar, de achar que já cresci tudo que tinha para crescer e ser tentado a pensar que encontrei um lugar largo o bastante onde posso regalar-me e descansar em paz. Morro de medo de me olhar no espelho e não me reconhecer, de sentir saudade de mim. Tenho medo de temer recomeçar. Morro de medo de ficar previsível, de só fazer o esperado, de não surpreender. Morro de medo de ser o mesmo homem entrando duas vezes no mesmo rio.
Mas também tenho medo da minha alma aventureira decidir embarcar numa aventura desvairada, de se apaixonar pelo exótico, pelo perigoso. Temo que ela se encante com o impossível, o inatingível, o inalcançável e ela perambule pela vida, tal qual o louco que perdeu o juízo por um amor impossível. Meu corpo estremece só de pensar.
Vivo como os meninos (João e Maria) temeroso pela noticia que acabaram de ouvir, de que serão deixados perdidos na floresta escura. Mas talvez o gosto/desgosto por este conto seja porque virá dele a senha que me fará me reencontrar, que lançará fora o medo, assim como João e Maria, caso um dia seja banido de mim mesmo. Talvez porque acredite que a minha alma subversiva, que se recusa a ser aprisionada, deixe ao longo da estrada as pedrinhas brancas, no caminho para a liberdade, onde a vida, dinâmica, teima em se reinventar. Talvez porque meu corpo esteja alerta por temer que a senha no caminho seja comida pelas aves e continue pra sempre perdido.
Mas gosto também porque embora apavorados pela notícia, pelo mal que se aproxima eles não se paralisam, não se queixam da vida, antes se põem em prontidão, agem. Se permitem a aventura, mesmo temendo. Entram na floresta escura, sem saber ao certo o que lhes espera, embora as perspectivas não sejam muito boas, esperando reverter a sorte. Gosto porque nela há espaço para o arrependimento de quem permite a maldade, porque nela existe a chance de recomeçar, de refazer, de volta a ser. Gosto porque apesar da mãe com coração de madrasta, tem um pai de coração maternal, o que me faz acreditar que apesar de toda maldade, até por parte das pessoas mais próximas, a bondade poderá vir de onde menos se espera. E na bondade os medos se vão, a morte cessa e a vida se refaz...