sexta-feira, 27 de agosto de 2010

LIBERDADE, LIBERDADE! ABRE AS ASAS SOBRE NÓS

Nasci sob o Regime Militar, numa cidade controlada pelos coronéis da política. Naquela época ter opinião política contrária era extremamente perigoso. Homens e mulheres foram expulsos, presos e até mortos, só por pensarem diferente. Ainda me lembro do meu pai sendo “caçado” por homens de arma em punho, como se fosse um animal peçonhento, porque ousara fazer uma crítica ao coronel mais poderoso.
Quando me lembro destas coisas me apego ainda mais à liberdade. Quem defende a liberdade às vezes é confundido com o intransigente, o pavio curto e até pode ser tido como alguém que deve ter sido amarrado ao pé da mesa quando ainda era criança, por causa do horror à falta de liberdade, seja física, ideológica, psicológica, religiosa ou de qualquer natureza. Quero o direito de cantar bem alto: “o que é meu direito eu exijo, não peço, com a intensidade de quem quer viver e optar: ir ou não por ali”. Defendo as minhas idéias como quem guarda sua terra, como quem luta por sua sobrevivência, como quem defende suas crias. Mas quero que este direito seja para todas as pessoas por mais que eu não concorde com o que elas dizem, ou como diz a frase atribuída a Voltaire: “Eu desaprovo o que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo”. Talvez por isso, embora respeitando a liberdade de escolha religiosa de todas as pessoas, tenha preferido ser batista, por nossa democracia, autonomia da igreja local e a defesa das liberdades, embora nem sempre veja isso na prática denominacional.
O amor à liberdade me faz vibrar com a festa da democracia, com as eleições. Como diz a canção: “só quem morreu na fogueira sabe o que é ser carvão”. Só quem vivenciou a época da privação sabe quanto liberdade é cara, preciosa.
Aproveitando a semana da Independência é preciso encontrar um jeito de contar aos mais novos os riscos dos regimes autoritários, das ditaduras, para que nunca mais os experimentemos. Apesar das imperfeições que possa apontar na democracia brasileira, concordo com Winston Churchill que “a democracia é a pior forma de governo, excetuando-se todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”. É claro que em nossa jovem democracia ainda há injustiças, é claro que tudo é mais fácil para os detentores do poder econômico, estão aí os candidatos ricos derramando dinheiro em campanhas milionárias para ocuparem os cargos mais importantes do país. Mas estamos amadurecendo. Creio que nossa democracia está se aperfeiçoando lenta e gradativamente. Neste caso aplica-se a frase: “a direção é mais importante que a velocidade”. Estamos à caminho, estamos na direção certa. Se soubermos manter aquilo que já conquistamos e ampliarmos as conquistas, em breve teremos um sistema mais justo e uma democracia mais robusta.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

QUANDO A VIDA VAI AO CHÃO

“...há tempo para todo o propósito ... tempo de derrubar e tempo de edificar” - (Ec 3:1,3)

Dois fatos dominaram os noticiários esta semana. As demolições das barracas de praia e da Fonte Nova. Ambos tinham um tom triste, melancólico, saudosista. Vi atletas e torcedores dando declarações e se despedindo da velha Fonte. Também vi barraqueiros chorando ao virem suas barracas e seu ganha-pão tombarem na areia.
Embora os dois sejam demolições e os dois tenham certo ar melancólico e saudosista, há duas lições bem distintas em ambos. Derrubar quase sempre está associado à perda. Normalmente associamos derrubar a algo ruim, sofrimento e dor, mas estes episódios parecem nos mostrar como fatos semelhantes podem trazer experiências e sentimentos diversos.
A demolição das barracas de praia comprova a regra de que derrubar é sempre ruim, sofrido e às vezes até desesperador. Era de cortar coração os depoimentos de homens e mulheres. A falta de perspectiva, a falta de esperança de que alguma coisa acontecesse para minimizar a sua dor ou resolver o problema, fez com que pessoas pensassem em medidas extremas. Pessoas se amarraram a botijões de gás, intentando contra a própria vida, declarando com seu gesto de que lhes faltava esperança pra viver dali por diante e que preferiam até morrer. A demolição era ruim, sem propósito, sem esperança.
Já na demolição da Fonte Nova o sentimento maior era outro. Havia saudade, havia sofrimento, mas havia esperança. A certeza de que o sofrimento será compensado pelo futuro brilhante, pelo estádio melhor que será erguido no mesmo local, faz que a dor seja suportada até com certa alegria, como a mãe que dá a luz. Há despedida, mas ela tem o gosto de reencontro, é partida com sabor de chegada, é adeus com tom de até breve. É a demolição boa, com propósito e cheia de esperança.
Estes dois eventos são parábolas da vida. Na vida podemos experimentar demolições sem propósitos, sem razão de ser. Derrubadas que são só sofrimento e dor, resultado da irresponsabilidade de outro, onde somos apenas vítimas passivas do processo. Uma das piores tragédias da vida é a dor sem lições, dor sem razões. Mas existe outro tipo de demolição. É preciso aprender que dentre os propósitos da existência está o “derrubar”. Precisamos aprender que há horas que a única coisa a fazer é jogar ao chão, fazer cair, “perder”. Não se pode edificar algo novo quando a velha estrutura ainda está ali, de pé. É bom entender que para que as nossas tendas sejam ampliadas, as velhas tendas devem ser derrubadas. Na linguagem bíblica é tempo de derrubar, para que venha o tempo de edificar.
Quando vemos a vida ir ao chão, lamentamos. Quando experimentamos a perda, reclamamos. A grande sacada da vida não é viver sem perdas ou demolições, mas dizer com o profeta: “bom é trazer a memória aquilo que nos traz esperança”. A diferença entre ambos não está no passado, de glória, nem no presente, de dor, mas no futuro, naquilo que Deus edificará depois da demolição, no novo que Ele fará em nós e por nós.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

LAPIDAR UMA MULHER

"Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Nos foi ordenado apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? " (João 8:4,5)
O mundo está estarrecido com a decisão do tribunal iraniano de condenar à morte, por apedrejamento, uma mulher, apanhada em adultério. O Brasil se ofereceu para recebê-la como refugiada. A minha cabeça gira, sentimentos se misturam, confusão.
Primeiro porque a reação do mundo tem um tom espetacular. Todos parecem estar diante de um fato inusitado, inédito. Na verdade este fato é um deja vu. Só pra falar de outro evento espetacular recente, em 2003 na Nigéria, onde a mulher teve a sentença adiada porque estava amamentando. O tribunal decidiu que ela só seria lapidada (nome dado ao ato de apedrejá-la) até à morte, depois que o filho fora desmamado. Daquela época só resta o poema de Affonso Romano Sant’Anna “Lapidar Uma Mulher”.
Segundo porque a reação de todos parece fazer acreditar que este tipo de barbárie contra a mulher já não mais existe em nossa sociedade. Porém, todos os dias os noticiários falam de homens matando mulheres pelos motivos mais vis, se é que há motivo pra se tirar a vida de alguém. Há cerca de 30 anos atrás um sujeito resolveu marcar o rosto de sua mulher com ferro em brasa com as letras MGSM (Mulher Gaieira Só Matando). Tal violência nos faz estremecer, talvez por causa do tom teatral. Mas violência contra a mulher é algo que vem de longas datas e que infelizmente está longe de terminar e acontece bem mais perto da gente do que se imagina.
No Irã, como na Nigéria e na maioria dos países de religião fundamentalista acredita-se que uma mulher pega em adultério precisa ser lapidada (apedrejada). Mas parece que este também é o sentimento de muitos que acreditam que palavras, pedras, socos, facas, tiros são instrumentos para lapidar a mulher e lavar a honra dos homens.
É interessante que uma única palavra possa ter significados tão diferentes. Lapidar pode significar apedrejar, tirar a vida, matar. Mas na minha infância lapidar significava trabalhar uma pedra preciosa, ressaltar as suas qualidades, tirar todas as imperfeições para que aquilo que é verdadeiramente precioso apareça. Na linguagem de Affonso Romano Sant’Anna:
     “Há quem tente lapidar / uma mulher / como se lapida / jóia rara / e pedra bruta.
      Com escalpelo / cinzel / buril / inscrevem nela uma figura, depois /
       a expõem nos salões / revistas e altares / apregoando quantos camelos /
       quantos colares / vale o dote / -da criatura.
      Na Nigéria também / lapida-se mulher / mas de forma / inda mais dura”.
O maior protesto que se pode fazer contra esta violência cometida no Irã ou na Nigéria, a melhor forma de mostrar a estes bárbaros o quanto estão errados não é oferecer abrigo político, embora seja uma tentativa nobre, mas será que teremos território para abrigar todas as mulheres a serem lapidadas? O que faria o mundo tratar de forma diferente a mulher não é o jogo diplomático. O que fará diferença de verdade é a forma como tratamos as nossas mulheres, é a maneira como as lapidamos. É fazer como Jesus, mesmo quando estiverem erradas receberem a oportunidade de continuarem conduzindo as suas vidas rumo à uma vivencia mais plena, mais digna. É aprender com Jesus a verdadeiramente Lapidar uma mulher: “eu não te condeno, vá e não peques mais”. Vá e viva a vida abundante, e mostre o seu lado mais bonito, mostre-se como uma pessoa digna.
Portanto a minha bandeira de protesto contra a violência feminina no Irã ou em qualquer parte do mundo é que de forma prática, no dia a dia mostremos como se lapida uma mulher.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

VENDO O INVISIVEL

Na Babel religiosa dos nossos dias até os conceitos mais simples ficaram confusos, por exemplo, fé. O que é fé? Para os desavisados é «apostar», tanto que alguns dizem que vão fazer uma fezinha. Para outros é confiar que algo vai acontecer. Segundo a bíblia é «a prova das coisas que não se vêem». Ter fé é confiar não que alguma coisa vai acontecer, mas confiar n’Aquele que não falha, que não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. É confiar que mesmo que nada aconteça, que os montes não desapareçam, que a noite continue escura, Deus está aqui conosco, nos amando, nos ajudando.
Fala-se muito do rito de passagem para a vida adulta entre os índios Cherokees. O rito consiste em o pai levar o filho para a floresta durante o final da tarde, vendar-lhe os olhos e deixá-lo sozinho.
O filho, então, se senta sozinho no topo de uma montanha toda a noite e não pode remover a venda até os raios do sol brilharem no dia seguinte. Ele não pode gritar por socorro para ninguém. Se ele passar a noite toda lá, será considerado um homem. Ele não pode contar a experiência aos outros meninos porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido.
O menino está naturalmente amedrontado. Ele pode ouvir toda espécie de barulho. Os animais selvagens podem, naturalmente, estar ao redor dele. Talvez alguns humanos possam feri-lo. Os insetos e cobras podem vir picá-lo. Ele pode estar com frio, fome, sede e muito medo. O vento sopra a grama e a terra sacode os tocos, mas ele se senta estoicamente, nunca removendo a venda. Segundo os Cherokees, este é o único modo dele se tornar um homem.
Finalmente... Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida.  Ele então descobre seu pai sentado na montanha perto dele. Ele estava a noite inteira protegendo seu filho do perigo.
Nós também nunca estamos sozinhos! Mesmo quando não percebemos Deus está olhando para nós, 'sentado ao nosso lado'. Quando os problemas vêm, tudo que temos a fazer é confiar que ELE está nos protegendo.
Apenas porque você não vê Deus, não significa que Ele não esteja conosco. Nós precisamos caminhar pela nossa fé, não com a nossa visão material. Evite tirar a sua venda antes do amanhecer...
'É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem.' Salmos 118.8