terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Então é Natal, A Festa Cristã ...

Eu sei o sentido do natal / Pois na história tem o seu lugar / Cristo veio para nos salvar / O que Ele é pra mim? / Té que um dia Seu amor senti / Sua imensa graça recebi / Descobri então que Deus não vive / Longe lá no céu, sem se importar comigo / Mas agora ao meu lado está / Cada dia sinto o Seu cuidar / Ajudando-me a caminhar / Tudo Ele é pra mim / Tudo é Jesus pra mim”

Vivemos hoje a expectativa do NATAL do Senhor Jesus. Ninguém pode afirmar com exatidão o dia do seu nascimento. Mas o mais importante é que o mundo reserva um dia para celebrar o nascimento do Príncipe da Paz.
Particularmente não gosto da associação do NATAL com a figura do Papai Noel. Não que não goste da figura do “bom velhinho”. É que o amor de Papai Noel não serve como referência para o verdadeiro significado do amor no NATAL. Senão vejamos: apesar da figura excessivamente paternal e das músicas exaltando as qualidades do bom velhinho, encontramos mais características de desamor e da paternidade irresponsável do que do amor autêntico e verdadeiro.
O único gesto de aparente amor por parte do bom velhinho é o fato de trazer presentes para os seus ‘filhos’. O amor de Papai Noel é o amor de um dia só, de um pai ausente (que vive lá no pólo norte), que numa determinada data se move do seu lugar para presentear os seus filhos. Mas como é muito ocupado não tem tempo nem para uma brincadeira, nem pra um afeto, ele chega quando a criança está dormindo e sai sem ser visto por ela, aliás poderia mandar o presente pelo sedex que não faria a menor diferença. Papai Noel é a representação do AMOR INDIFERENTE.
Este sentimento é completamente alheio ao verdadeiro sentido do natal. Natal é um Pai que ama tão profundamente que mesmo quando é rejeitado está buscando o seu filho perdido. Natal é amar ao ponto de se entrega numa cruz para morrer. Natal é a celebração desse amor. Natal é Deus armando a sua tenda entre nós, vivendo e morrendo como qualquer dos seus filhos. NATAL É UM PAI AMANDO AQUELES QUE NÃO MERECEM, MAS QUE CARECEM DO SEU AMOR.
Celebrar o Natal é celebrar este amor, é reconhecer que nasceu o Maravilhoso Conselheiro, o Deus Forte, o Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz. Celebrar o Natal é dizer EMANUEL.
Roberto Amorim

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

FESTA DE ANIVERSÁRIO

“Seu maquinista é favor parar o trem que hoje é aniversário de quem muito eu quero bem. Ai como é bom se festejar, aniversário no arraiá, ai como é bom se festejar aniversário no arraiá” era assim que era acordado todo dia 11 de agosto até meus 30 anos. Durante a maior parte da minha vida este cântico significava que teria uma deliciosa galinha no almoço e o carinho de todo dia.
É engraçado que no mundo de consumo em que vivo hoje parece impossível uma criança ser feliz, tornar-se um adolescente tranqüilo e um adulto sem maiores frustrações. Nada de presentes caros, aliás, presente mesmo tenho muito pouca lembrança. Mas sem saudosismo gratuito e fruto da falta de reflexão, gostaria de afirmar que se me fosse dado o direito de voltar e renascer, gostaria de renascer lá, na Itinga da Serra, na casa de Seu Fernando, homem simples, manso e bem humorado e de Dona Eliete mulher guerreira, carinhosa e cheia de fé.
Neste 11 de agosto sem ter quem cantasse a música do maquinista, minha mente e meu coração cansados dos presentes, das falsas falas de feliz aniversário recorreu ao bolso da alma e de lá retirou esta canção quase esquecida e o meu espírito se alegrou, se renovou, me lembrei do gosto da galinha, dos beijos não fingidos, dos afagos paterno e materno, das brincadeiras de criança com meus irmãos e amigos, me lembrei de onde vim e de quem eu sou. Me senti gente com história. Desejei reencontrar pessoas queridas, redescobri sonhos empoeirados, votos esquecidos. Brinquei com cada ano já vivido como se fosse bola de gude, peguei cada um, poli, dei um brilho especial. Em cada um deles encontrei ranhuras, sinal de que foram usados, de que brinquei com eles. Nem pensei em quantos anos ainda tenho, mas quantos já vivi e de como foram bons e os desejei reencontrá-los.
Creio que também é pra isso que serve a festa de aniversário, relembrar, reviver, tirar lições que nos ajudem a tocar a vida de maneira mais digna, de nos humanizar, de nos fazer recobrar a consciência. Hoje tudo isso aconteceu por causa da velha cantiga que relembrei.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

TENHO SEDE

Os futurólogos são unânimes em afirmar que num futuro próximo o bem mais precioso e a razão das guerras será a água. O que hoje se anuncia para o futuro da humanidade já tem sido a experiência de alguns povos por milênios. A música nordestina fala da sede do homem sofrido do sertão: “me dê um copo d’água eu tenho sede e essa sede pode me matar”.
Este fenômeno serviu para ilustrar a vida de alguém quando perde o sentido, perde o vigor, quando a abundância de vida já não existe. O próprio Jesus afirmou “eu sou a água viva quem beber de mim não terá sede ... aquele que beber da água que eu lhe der jamais terá sede de novo”, numa afirmação clara de sua disposição de se dar para amenizar a dor, o sofrimento e trazer algum prazer à existência humana.
Mas estremeço quando continuo pesquisando este tema na bíblia sagrada dos cristãos e me deparo com a situação em que o próprio Cristo agora é quem tem sede, logo Ele que há tantos saciou, trouxe esperança, o sentido do viver, agora está ali, numa pesada cruz, desidratado e clamando: “TENHO SEDE”. A minha alma nordestina me afirma que nem ao inimigo se nega um copo d’água, ainda mais alguém como ele, NOSSO SENHOR. Me estremeço porque o relato seguinte diz que um homem lhe oferece em lugar de água, vinagre.
Este relato pode ser uma parábola das nossas relações inter-pessoais. O Cristo não foi o único a dar o frescor revigorante da água e receber em troca a acidez mortífera do vinagre. Muitas vezes nas nossas relações mais íntimas experimentamos essa triste realidade. Quando mais precisamos de gratidão, de amor, de tratamento igual, mais experimentamos a violência daqueles que agora detêm o poder.
Quantas vezes também nós bradamos: TENHO SEDE e vemos se aproximar alguém que parece ter ouvido o nosso grito desesperado e leva a sua esponja aos nossos lábios e então sentimos o cheiro e o gosto ácido que não sacia, que causa repugnância.
Mas desde criança ouvi: “Cada um dá o que tem”. O Cristo só podia saciar, revigorar, refrescar a vida, era isso que jorrava do seu interior, fazia parte da sua natureza. Ele jamais foi reativo, seu agir não era condicionado pela ação do outro. Mesmo quando era ofendido, massacrado, continuava a ser quem era. O soldado romano só conhecia a dor, o agredir, o massacrar, o fazer sofrer, o reagir com força mortífera, o dominar, o destruir, fazia parte da sua natureza, era isso que jorrava do seu interior, vinagre.
Há pessoas que são assim. Seu interior é podre, ácido, fétido, mesmo quando têm uma boa religião. Há pessoas que não importa o que recebam, estão sempre prontas para derramar o seu vinagre que mata, mesmo àqueles que lhe deram a vida, que foram socorro bem presente na hora da angústia. Seus atos aparentemente generosos de aproximarem-se dos sofridos com a esponja encharcada, na verdade são atos sádicos, são uma expressão da sua alma azeda.
Pior que a escassez de água no futuro, que provocará guerras sangrentas, tem sido a escassez de “água” no espírito humano que faz com que as relações estejam destilando o vinagre que mata hoje.
Roberto Amorim

VERGONHA E DESESPERANÇA

Este é um texto do Pr. Carlos Novaes e que certamente tem um cunho profético (denúncia e advertência), espero que sejamos capazes de ouvir a voz de Deus e quem sabe corrigir os nossos próprios rumos.

Se quiserem chamar de sentimentalismo nostálgico, sintam-se à vontade, mas hoje tenho orgulho apenas do nosso passado. Apraz-me saber que a origem dos batistas vincula-se às lutas em defesa da autonomia e da competência do indivíduo, do batismo voluntário, da eclesiologia congregacional, da liberdade religiosa e da separação entre Igreja e Estado - lutas que ajudaram a construir os ideais de modernidade e democracia dos nossos dias.
Orgulho-me dos batistas de antigamente que protagonizaram eficazes campanhas de evangelização e avivamento nos locais onde se instalavam, revolucionaram os conceitos missiológicos (a ponto de encontrarmos no planejamento estratégico de William Carey, para sua atuação na Índia, os princípios essenciais que hoje direcionam as ações missionárias modernas), marcaram a arte e a literatura (a exemplo da obra O Peregrino, de John Bunyan, considerado um clássico mundial), enriqueceram a música e a liturgia dos cultos (como no caso de hinários que se tornaram referências entre as diversas denominações), mantêm programas em defesa dos direitos humanos nos países onde há perseguição política e religiosa (basta lembrar a firme atuação da Aliança Batista Mundial nesta área) e outras contribuições similares para a sociedade contemporânea.
Sinto orgulho das empreitadas missionárias pioneiras de Eurico Nelson e Salomão Ginsburg. Orgulho do Maracanã repleto de batistas do mundo inteiro. Orgulho de Diretriz Evangélica, movimento de engajamento sócio-político nos tempos da repressão militar. Orgulho da literatura doutrinário-teológica publicada pela antiga Junta de Educação Religiosa. Orgulho de Rubens Lopes à frente da Campanha Nacional de Evangelização, de David Malta na reitoria do Seminário do Sul e da respeitabilidade de homens da estirpe de Reis Pereira, David Gomes, João Fílson Soren, Himaim Lacerda, Antônio Neves de Mesquita, Bem Oliver, Éber Vasconcelos, Falcão Sobrinho, entre outros, tantos outros.
Tenho orgulho, entretanto, apenas do passado. Confesso que, voltando os olhos para o presente e, em especial, para a Convenção Batista Carioca, à luz da atual e indisfarçável mediocridade reinante, carrego comigo tão-somente a vergonha e a desesperança. Tenho vergonha de ver minha igreja participando de uma Convenção com esta face desfigurada. Vergonha de tentar justificar, diante da congregação que pastoreio, a nossa cada vez mais injustificável cooperação financeira. Tenho vergonha de ver alguns quadros e instituições denominacionais tomados por aqueles que possuem o único e despudorado objetivo de obter benefícios pessoais. Tenho vergonha de saber que não poucos, para permanecer no poder às custas do sacrifício de princípios éticos e de valores bíblicos, prestam-se a manipular e manobrar pessoas e situações. Tenho vergonha de ver que, motivados por rancores ímpios e desejos mesquinhos de vingança, quando não pelo inescrupuloso empenho em constranger, intimidar e ameaçar, recorrem a instâncias judiciais seculares e, o que é pior e mais desalentador, acham-se cobertos de razões - as falsas razões que brotam de insanas irracionalidades. Tenho vergonha de participar das reuniões do conselho administrativo e das assembléias convencionais, onde - numa patética passarela de encenações e dissimulações - desfilam a mentira, a ironia, a desfaçatez, a astúcia da serpente, a hipocrisia dos fariseus e a violência dos gananciosos. Tenho vergonha de uma denominação que, apesar de estar inserida numa sociedade com graves crises e problemas complexos, aos quais deveria responder com marcantes ações de influência ética, prefere dar amplo espaço a disputas mesquinhas, à estúpida chama da fogueira das vaidades, à repartição implacável dos seus despojos, optando por rodear em torno do seu próprio umbigo, enclausurar- se em seu próprio casulo e tornar-se assim inútil porque fútil, tão fútil e inútil quanto estruturas outras que o tempo fez o favor histórico de enfraquecer, desmontar e extinguir. Tenho vergonha da nossa presença na educação secular, longe, muito longe dos propósitos originais, servindo hoje tão-somente de motivo para discórdias e divisões, causando prejuízos aos cofres denominacionais e atendendo interesses menos nobres, sem conseguir comprovar alguma excelência educacional, sem influenciar de modo evidente os setores acadêmicos e sem qualquer contribuição intelectual notória para a comunidade científica. A meu ver, colégios convencionais em tais condições deveriam ser fechados, desocupados e vendidos, para que as igrejas possam preocupar-se, de fato, com sua missão precípua de evangelizar e testemunhar, livres de empecilhos morais que desacreditam a pregação. Tenho vergonha ao descobrir que a Convenção Carioca nada mais tem a dizer à sociedade atual, não só porque seus discursos estão completamente desvinculados das práticas, não apenas porque, normalmente, inteligência e denominação não caminham de mãos dadas, mas especialmente porque está vazia, ficou oca, reveste-se de uma lamentável mediocridade, tornou-se uma figueira seca - que só serve para ser cortada e queimada - e sal sem sabor - que não serve senão para ser pisado. E como tem sido pisada, e como tem sido desprezada a nossa pobre, a nossa paupérrima Convenção por quem passa com a mínima capacidade de reflexão e discernimento.
Mas não é só vergonha o que sinto - antes fosse. É desesperança. Não soubemos administrar a herança que recebemos. Não somos dignos da nossa história. Não merecemos o nome que temos. E não vejo horizonte adiante. As igrejas até que vão bem - crescem de modo razoável, contribuindo de alguma forma para o testemunho cristão na sociedade. Mas a estrutura denominacional faliu. O modelo esgotou-se. Tornou-se um câncer de tumores fétidos e irreversíveis. É odre velho - como referiu-se Jesus às antigas instituições farisaicas - e não adianta querer enchê-lo com vinho novo. Qualquer mediano conhecedor das Escrituras entende que Cristo não fundou qualquer igreja institucional (católica, anglicana, luterana, seja qual for). Cristo fundou um conceito de igreja. São corpo de Cristo as igrejas que permanecem leais a esse conceito. As demais, não passam de ajuntamentos religiosos. As denominações também não foram criadas pelo Senhor: nascem como fatos sociais resultantes de determinados contextos históricos. Em suas posturas e ações, podem expressar ou não os valores do Reino. De modo geral, não expressam. Como aconteceu a outras tantas denominações ao longo desses vinte séculos de cristianismo, os batistas surgiram, cresceram e agora, em muitos países, vemos sinais claros do seu melancólico ocaso. A Convenção Carioca é um exemplo.
Restam-nos a nostalgia e o lamento. Parece que, cansado, Deus abandonou-nos à mercê das nossas próprias inconseqüências. Afinal, não somos os únicos a quem Ele pode usar para a expansão do seu Reino. Há quem, com certeza, seja mais útil e fiel aos seus propósitos. Bem-vindos, irmãos e irmãs batistas cariocas, ao nosso particularíssimo cativeiro babilônico.
Pr. Carlos Novaes

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sofrimento Bom

Há sofrimentos sem sentido, como o do paciente terminal mantido vivo por conta das parafernálias médicas que não irão curá-lo, mas mantê-lo 'vivo' mais por uma ação egoísta dos que ficam do que por alguma esperança. Mas há sofrimentos, que apesar da intensidade da dor, do preço pago, são essenciais para que a nossa alma seja 'depurada'. Se ao final sair uma pessoa melhor, tal sofrimento terá 'valido a pena'. Custa caro, o preço é alto mas vale a pena.

A dor do filho pródigo em terra distante é altíssima: decepção, sofrimento e desesperança. Mas o produto final é alguém mais humano. Do moço arrogante, cheio de si, sem amor, calculista, materialista, explorador da dor do outro sobra quase nada. O que vemos em meio à dor e ao final dela é um jovem mais humano cuja alma é capaz de se alegrar com as coisas mais simples, capaz de se encantar com os gestos mais pueris, agradecido. Aquele cuja escala de valores está absolutamente em ordem, sensível, humilde, corajoso, enfrentando as suas derrotas como um campeão, aceitando a possibilidade de recomeçar sem cobrar...

Como seria o fim dessa história se ao invés de sofrer as consequencias dos seus erros, este jovem tivesse uma conta onde o Pai suprisse com gordas quantias a cada mês?

Como diz um autor: "Terra onde o sol brilha o ano inteiro vira deserto".

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Parábolas - Filho Pródigo III

O Pródigo

Desse personagem não preciso escrever tanto, e se escrevesse teria que fazer uma auto-biografia. Um tolo em busca da felicidade. Alguém que acredita que a grama do vizinho é sempre mais verde. Um crédulo que acreditou que a bijouteria que reluz do lado de lá é mais valiosa que a pérola que possui e está disposto a vendê-la para desfrutar o prazer daquilo que reluz do lado de lá. O faminto de prazer que acredita que as migalhas de lá alimentam mais que o banquete de cá. O filho pródigo somos todos nós que já experimentamos a cabeça entre as mãos, na sarjeta, diante da grande questão: “como pude chegar a esta situação?”
Mas ser o mais moço é também ter experimentado, mesmo que de maneira incompleta e imperfeita o amor do Pai, é alguém com um coração sensível. É ter sido afetado pelo coração amoroso do Pai ainda que tenhamos compreendido erroneamente este amor, ainda que tenhamos confundido tudo a ponto de chegarmos a pedir a nossa parte na herança, mas lá, no país distante quando todas as esperanças se mostram vãs, é esse amor que nos faz despertar e acreditar que o amor é incondicional e que nos receberá de volta apesar do que fizemos.
Jamais será aceito plenamente pelo irmão mais velho. Será sempre alvo do seu julgamento, da sua desconfiança, do seu desprezo. O irmão mais velho jamais o perdoará, seus feitos foram grandes demais, seus erros imperdoáveis. Quantos irmãos mais velhos estão torcendo para os mais novos perderem, caírem em desgraça para que eles os pisem, se vangloriem. Um bom teste para ver quem é um irmão mais velho é perguntar-se o que você realmente sente quando vê alguém na sarjeta, especialmente aqueles que discordam de você na doutrina, na maneira de ver a vida.
Um pródigo jamais sentirá a vida do mesmo jeito, jamais esquecerá do hálito da graça, jamais deixará de olhar com misericórdia os errantes, ou na linguagem do poeta sacro: ‘olhar com simpatia os erros de um irmão’. O pródigo é alguém que já não tem falsas pretensões, nem tem idéia de si maior do que convém. É alguém que sabe da sua humanidade, das suas limitações, alguém que conhece sua persona e sua sombra. Imperfeito, mas saudável. E aprendeu a tratar os outros com a mesma compaixão. É alguém que sabe que se pode confiar em alguma coisa é no amor incondicional do Pai que ama o inamável, perdoa o imperdoável, acolhe o repulsivo e recebe o inaceitável.
Uma constatação na vida do filho mais jovem é que o que mais desejava podia ser encontrado nas coisas mais simples e que sempre estiveram tão perto, mas como diz a canção parece que é “do inferno que se vê o Paraíso”...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Parábolas - Filho Pródigo II

Empregados da Casa do Pai

Sei que a pretensão de Jesus não era falar desses personagens, que havia na verdade uma lição muito objetiva na parábola, mas não posso deixar de enxergar as semelhanças entre os personagens da parábola e o meu próprio mundo com seus personagens. Na relação com o Eterno também há um outro grupo de pessoas que entende a relação espiritual como uma relação de barganha, de “toma-lá-dá-cá”. Pessoas que nem questionam a existência de um Ser Espiritual Superior que rege a vida com justiça e bondade. Pessoas que tem até algum contato com aquilo que denominamos ‘mundo espiritual’. Pessoas que gostam do Pai, que amam estar na sua casa, gente que até está na casa do Pai, mas não pertence a ela. Pessoas que fazem da relação espiritual com o Eterno uma relação utilitarista, de ter o Eterno como um amuleto, um gênio da lâmpada que serve para suprir, proteger, mas sem uma relação mais próxima que isso. Na parábola essas pessoas são “Empregados da Casa do Pai” gente que sabe do amor, da misericórdia do Pai, mas não se permitiu ser adotado, gente que come da casa e na casa, mas não pertence a ela, gente que até celebra quando os filhos voltam, mesmo sem entenderem o real significado disso, gente que se satisfaz em ter comida (problemas resolvidos, por meio das orações dos outros) ... É temente, mas não conhece o carinho e a intimidade de estar nos braços do Pai. Há pessoas que estão satisfeitas por estarem tão perto de Deus, por serem tementes a Deus, por não fazerem mal à ninguém, por terem alguém próximo que já foi adotado pelo Pai, mas não sabem o que é ser verdadeiramente filho de Deus, não tem uma promessa de filho, não desfrutam dos privilégios de filhos ...
Na Casa do Pai há o mundo dos filhos e o mundo dos empregados. Mas ultimamente há confusão, filhos que pediram sua parte da herança mas não partiram, ficaram como empregados – aliás este foi o desejo do filho mais novo quando se viu diante da tragédia da sua vida, voltar e viver a vida utilitarista, de ter o suprimento, de estar perto do Pai mas sem a intimidade, sem os compromissos e privilégios de filho. Quantas vezes sou assim, quantas vezes sou tentado fazer de Deus apenas o abençoador, quantas vezes me aproximei de Deus com a idéia de ter minhas necessidades satisfeitas? Além da minha espiritualidade pessoal olho para as religiões e em especial para o evangelicalismo brasileiro e tenho a impressão que a cada dia o que cresce não é a comunidade de filhos, mas de empregados. Há um crescimento evangélico no Brasil inquestionável, mas receio que o que tem crescido na verdade é o numero de pessoas que estão na casa, se alimentam dela, mas que a ela não pertencem ...

O FILHO MAIS VELHO

Este é um tipo intrigante e muito triste. É o tipo de pessoa que já se esqueceu da graça de ‘servir’ ao Pai, gente que pertence a Casa e que a Casa lhe pertence mas vive com medo, como empregado. Gente que não entendeu o prazer de viver na casa do Pai e vive desejando comer as bolotas, mas sem coragem de pedir. Gente que tem um Pai que é todo coração, mas vive como se servisse a um patrão miserável. Tudo isso afeta profundamente a alma e por isso este personagem olha sempre para os que caíram com desconfiança, com desprezo e com grande dose de julgamento, simplesmente não pode admitir que alguém tenha tido a coragem de fazer o que ele por medo não faz e ainda tenha a coragem de voltar para pedir perdão. Jamais aceitará o retorno como algo bom e pra valer, é daquele tipo que diz: “ele ainda não me convenceu, até torço pra que seja verdade, mas não sei não”. Ou, “será? Será que ele já está pronto pra ter o anel de volta? Acho muito prematuro”. Quando há alegria pela volta do ex-perdido vaticina: “Não sei pra que este estardalhaço todo, e se amanhã cair de novo, porque o porco sempre volta ao lamaçal”.
Sente-se guardião do tesouro do Pai. Imagina simplesmente que o Pai não pode realmente perdoar o que lhe foi feito – está pronto a apresentar as razões porque o Pai não deve perdoar e nem mesmo confiar no arrependido.
Mas este mal também o afeta. É alguém impiedoso consigo mesmo, alguém que abdicou dos prazeres da vida, até dos mais lícitos, por medo de não ser direito seu: “nunca me deste um só cabrito para festejar”. Serve ao Pai não com base no amor que liberta, mas na lei que escraviza. Alguém que tem tudo pra ser feliz, que deveria ter mais prazer na casa do Pai do que o irmão desfrutou nas terras distantes, mas na verdade anseia também por pequenos deleites sem “poder” desfrutá-lo. Pior que comer lixo na terra distante é viver de migalha na casa do Pai. Por onde passo tenho achado tantos irmãos mais velhos. Tenho visto tantos filhos impiedosos, intolerantes, ensimesmados, tanta gente mais real que o REI. Tantos que machucam ou simplesmente não recebem o regresso. Filhos que aproveitando-se de estarem com a chave do portão fecharam todas as possibilidades de retorno. É uma pena, mas não tenho assistido as festas de retorno, nem cabritos assando, nem alegria pela volta. Tenho visto tantas condições pra voltar que faz com que os mais novos ao pensarem no preço a pagar pelo retorno preferem continuar sendo explorados e comendo a comida dos porcos na terra distante ...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Parábolas - Filho Pródigo I

Gosto da parábola do “filho pródigo”, talvez porque haja ali mais da minha própria história do que gostaria de admitir. Mas também porque vejo ali o amor de Deus sem as ranhuras religiosas. Amor que aceita os inaceitáveis, que perdoa os imperdoáveis, que acolhe os desprezíveis e que não é só sentimento, mas ação.
Há uma grande verdade sobre o impacto desse amor na vida daquele que o experimenta. Uma vez que se conheceu o amor do Pai não se é morador da terra distante. Mesmo que viva entre os habitantes da terra distante, seu coração já foi marcado e mais cedo ou mais tarde isso fará toda a diferença, e será o indicativo que o fará sentir falta de casa e vontade de voltar. Quem conhece o amor mesmo que more longe é filho, ainda que rebelde, mas jamais morador da terra ... Quero convidá-lo a dar uma olhada nas personagens desta história ...
Morador da Terra Distante
Na parábola e na vida há pessoas que vivem longe da casa do Pai. Existem pessoas que nem sabem do generoso coração do Pai e se sabem alguma coisa dele provavelmente o sabem de forma distorcida. Mas o pior é que o modelo de bondade e de graça não alcançou os seus corações, nem moldou as suas relações. Lá, na terra distante, as pessoas vivem um mundo cão. O mundo longe da casa do Pai é o mundo do “salve-se quem puder”. Lá as relações são extremamente egoístas, a exploração do homem pelo homem não só é tolerada, mas estimulada e quem assim não age é considerado ‘ingênuo’. O texto bíblico e a vida real nos revelam esta exploração na realidade das prostitutas vendendo os seus corpos e sua dignidade aos solitários e fanfarrões, que na tentativa de desfrutar algum prazer exploram o outro e compram sua dignidade. Na terra distante as pessoas buscam no prazer dar sentido à sua pobre vida. Exploração presente também na vida dos pobres trabalhadores que lá tanto quanto aqui, vivem desejando comer o que comem os animais, como diz a canção "tem muita gente por ai querendo levar uma vida de cão. Eu conheço um garotinho que queria ter nascido um pastor alemão", mas são escorchados por seus donos/patrões. Na terra distante os habitantes exploram uns aos outros, o enganador de hoje é o enganado de amanhã. É o mundo das falsas amizades, dos amigos cuja lealdade só pode ser sentida a medida que duram o status e os bens – quando caiu em desgraça todos se afastaram/afastam. É o mundo da solidão, do choro no travesseiro sem haver quem console, é o mundo da desesperança, da dor de se estar só quando o seu mundo está ruindo, na dor de não ter com quem contar. Na terra distante as pessoas vivem em solidão mesmo rodeadas de pessoas. Infelizmente há pessoas vivendo assim, sem saber que há um lugar de consolo, de acolhimento, de misericórdia e vão reproduzindo o que receberam, tocando em frente, achando que esta é a única vida possível...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PREMATURO

Nasci antes do tempo, sou de sete meses. Tenho o espírito inquieto, sou um inconformado. Odeio a rotina muito embora reconheça sua importância. Tenho a sensação de que o mundo em que devo viver ainda não chegou, não está completo. Que ainda o estamos construindo. Não estou bem certo se sou assim porque nasci de sete meses ou se nasci de sete meses porque sou assim. Só sei que eu também ainda não sou, estou sendo. Portanto isso me faz uma pessoa sempre em busca de algo, agradecida, mas insatisfeita. Os religiosos me dirão, tentando domar o meu espírito, que deve ser um vazio que só Deus é capaz de preencher, talvez seja mesmo, mas não no sentido em que empregam os termos.
Quero um mundo novo embora esteja agradecido por esse, quero novos relacionamentos, quero e anseio por uma nova realidade. Desejo um mundo que minha alma conhece de tempos imemoriais, mas que hoje está ausente. Sou inundado por uma nostalgia do futuro, do mundo que anseio (re) encontrar.
Nasci antes do tempo, sou de sete meses. Tenho o espírito inquieto, sou um inconformado. Odeio a rotina muito embora reconheça sua importância. Tenho a sensação de que o mundo em que devo viver ainda não chegou, não está completo. Que ainda o estamos construindo. Não estou bem certo se sou assim porque nasci de sete meses ou se nasci de sete meses porque sou assim. Só sei que eu também ainda não sou, estou sendo. Portanto isso me faz uma pessoa sempre em busca de algo, agradecida, mas insatisfeita. Os religiosos me dirão, tentando domar o meu espírito, que deve ser um vazio que só Deus é capaz de preencher, talvez seja mesmo, mas não no sentido em que empregam os termos.
Quero um mundo novo, quero novos relacionamentos, quero e anseio por uma nova realidade. Desejo um mundo que minha alma conhece de tempos imemoriais, mas que hoje está ausente. Sou inundado por uma nostalgia do futuro, do mundo que anseio por (re) encontrar

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Feliz Ano Novo


A vida é feita de ciclos. Quando observo as estações do ano, sinto que assim também é a vida.
Portanto quando um ano termina e outro se inicia faço algumas leituras que gostaria de compartilhar. Não sou daqueles que acreditam que a vida se ordenará sozinha e que o sucesso acontecerá como num passe de mágica porque um ano novo chegou. Mas acredito que toda virada de ano é a possibilidade de um recomeço, de tentar de uma outra forma.
Oportunidade de recomeçar – é como se nosso pedido de perdão pelos erros fosse atendido e a vida nos desse uma chance de recomeçar.
Mas daí para as esperanças mágicas também é uma linha muito tênue. Vestir amarelo na virada do ano, pular sete ondinhas, comer lentilhas ou ir ao culto da virada fará do ano novo um ano diferente. Vã esperança. Há um ditado que diz que a esperança é a última que morre, mas alguém já respondeu dizendo que “há esperanças que devem morrer primeiro”.
Sobre isso tem duas frases maravilhosas: ‘NADA MUDA SE NADA MUDA”. Ou seja se tudo permanece inalterado: se você é o mesmo, se suas práticas são as mesmas, se seus valores são os mesmos – o resultado não pode ser diferente. E a outra frase que diz: “LOUCO É QUEM FAZ TUDO IGUAL E ESPERA RESULTADO DIFERENTE”. Tem pessoas que estão achando que o ano novo fará tudo ser diferente, os resultados serão melhores, os negócios vão melhorar, o amor vai acontecer, a felicidade vai bater à porta, etc, etc. Mas estão repetindo os erros de ontem, estão praticando as mesmas coisas do ano velho. Há uma verdade que diz: “o que o homem plantar isso mesmo colherá”.
O ano novo é uma oportunidade nova de recomeçar, é a vida concedendo perdão e dando a possibilidade de mostrar que aprendeu lições com os erros do passado. Cabe a você aproveitar esta chance e trabalhar para fazer realmente algo novo e diferente.
Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

OS VENDILHÕES MODERNOS

No mundo pós-moderno adaptar-se é a ordem. Ou se adapta ou se extingue, esta é a lei. A competitividade tem exigido cada vez mais habilidade, por isso não adianta manter-se fiel a métodos ou “visões” se estes não conseguem responder tão rapidamente quanto a concorrência. Inquietação, busca pela excelência, perfeição e tudo isso a baixo custo para conseguir concorrer no mercado globalizado.
O mundo eclesiástico também vive os seus dias de inquietação na busca da excelência nos métodos visando a “concorrência” da religiosidade globalizada, que na cultura pós-moderna virou um grande “shopping”, oferecendo ao cliente uma “espiritualidade sob medida” e a gosto do freguês. Na busca por “novos mercados” e na tentativa de vencer a concorrência têm-se reduzido os custos, inclusive dos nossos valores mais caros e hoje encontra-se no mercado religioso ofertas imbatíveis. O custo tem sido reduzido em muitos casos ao ter, ou melhor a dar o que se tem, mas sem nenhuma afetação no que se é.
Nesta busca por “novos mercados” os “executivos da fé” têm aberto mão da qualidade, o que no mercado globalizado é um erro grave. O mercado exige qualidade e baixo custo. O que se tem oferecido é a redução dos custos à custa da queda da qualidade. Ao invés da religiosidade/espiritualidade que traz esperança tem se consumido a religiosidade/espiritualidade que entorpece (ópio).
No afã de não perder o mercado e até expandi-lo e na busca por adaptar-se aos novos tempos e à lei da livre concorrência, não nos é permitido lançar mão de qualquer método. Todo novo método precisa ser avaliado à luz dos ensinos das escrituras. Sem observar esta regra básica e no afã de crescer, de virar mega a igreja tem se prostituído, perdendo, inclusive toda a sua relevância histórica. As ovelhas continuam desgarradas e errantes, mas destas (quase) ninguém tem compaixão, mas em compensação os títulos estão cada vez mais em voga e as relações humanas estão cada vez mais hierarquizadas. Há igrejas que têm se tornado tudo o que Cristo não gostaria que fôssemos: os lobos e as ovelhas, pastores e mercenários transitam nos mesmos apriscos, com os mesmos “discursos”. CONFUSÃO.
Resgatar a sua relevância histórica é um dever das fiéis, mesmo correndo o risco de estar na “contramão” da globalização religiosa. Perceber a sua missão ao ser deixada na terra e esforçar-se por cumpri-la é agradar Àquele que nos alistou. Ser movido de compaixão pelas vidas dos sem-vida, ser resposta às perguntas feitas pelos sem-voz, enfim fugir do CULTO/ESPETÁCULO que a tantos tem atraído e traído a verdadeira vocação da igreja.
Ser igreja de Jesus é ser serva, disponível e comprometida com o Projeto do Reino de Deus. É ser igreja onde a vida do Cristo é destilada nos relacionamentos com os de dentro e os de fora. Onde o amor/graça é o cimentador dos relacionamentos.

Oração: Ó Eterno, nestes últimos dias firma os nossos pés para não vacilarem diante das tentações eclesiásticas. Não nos deixe cair na tentação mercadológica de fazer das tuas ovelhas negócio.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Saudade de Deus

Ouvi dizer da dificuldade que é expressar na língua inglesa o significado de saudade. Não é fácil, porque saudade é algo tão típico das línguas latinas e tão peculiar da nossa sentimental alma brasileira que não encontraria paralelo no pragmatismo anglo-saxão. Uma definição que particularmente gosto é a de um teólogo brasileiro, homem de Deus (ele riria se pudesse ler isso): “saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que provou e aprovou”.
Diz ainda Rubem Alves que saudade quanto mais se tenta explicar, na língua inglesa, mais se vai acumulando retalhos. Até parece que este sentimento só continua sendo bem expresso pela palavra saudade. Coisas da língua portuguesa.
Mas por certo cada um a quem me dirijo, ainda que não saiba definir com palavras o que significa saudade, sabe bem do que estou falando, pois também sente AQUELE NOSTALGIA de alguma pessoa ou coisa da qual está separado e que por um instante lhe é dado o direito de tê-lo em lembrança ao sentir um cheiro, um gosto ou ao ouvir uma música ou outra coisa que o desperte magicamente.
Deus também sabe o que é saudade. Ele sente saudade. Saudade de nós. Na sua alma (me perdoem os que não crêem que Deus tem uma alma) Deus guarda a vontade de nos ter ao seu lado. Deus sente saudade de nós, gostaria de nos ter de novo no seu jardim. Desde que partimos lá também ficou sem graça, sem brilho, virou lugar da saudade, das memórias tristes (o por do sol também é triste por lá) e o criador na virada de cada dia se lembra dos bons tempos, e gostaria de ter-nos novamente em casa ...
Uma das cenas mais ternas e dramáticas da bíblia, eu encontro no relato da criação. Aquele que nos fala da criação de tudo (um a um). Tudo criado, o homem e a mulher são criados por Deus para relacionar-se com Ele, viver em comunidade e exercer a administração gerencial dos recursos naturais. E tudo havia recebido de Deus um curto, mas perfeito diagnóstico de que era bom: “Viu Deus tudo quanto fizera e eis que era muito bom”... e belo (Gênesis 1:31). Mas o relato seguinte, quando se aborda o conflito de relacionamento entre a criatura e o seu Criador e onde emerge a figura da serpente aparecendo entre um e outro encontro do Criador com a criatura e esta parece estar muito longe de ouvir a sua voz e responder à sua sede de encontro.
A cena é extremamente humana e aconchegante, mesmo que o ambiente esteja carregado e o silêncio seja tão pesado. DEUS VEM VISITAR OS SEUS FILHOS, na virada do dia, hora da saudade da alma. Num primeiro momento nem presença, nem a voz de Adão e Eva são sentidas, e só surgem após alguma insistência por parte do Pai.
Gosto da expressão “virada do dia”, entardecer, sol “caindo”, a revoada de pássaros ao redor da copa das árvores, céu avermelhado. No interior era a hora da visita dos amigos ou mesmo dos filhos aos seus “velhos”, hora sagrada. Tomar cafezinho e bate papo na casa do pai. A hora da saudade da alma. É nesta hora que Deus “sai de casa” e vai à casa dos seus filhos – comer bolo de milho e tomar um gole de cafezinho na mesa da cozinha ao lado do fogão de lenha. Veio só para dizer que se importa, que nos quer, que tem saudade de nós, que gosta de estar com os homens e mulheres que criou e que gostaria de sentar numa roda pra conversar conosco.
Mas quando chega o criador dá com a cara na porta. De fato, a cena é ainda mais dramática. Quando eles desconfiam que Deus está se aproximando, fecham a “casa” e vão se esconder no matagal, lá longe. Eles não querem se encontrar com Deus. Temiam a reação por isso fogem. Reação de criança que não morre dentro de nós – fugiram. Temiam o encontro com Deus e também consigo mesmos: Não querem assumir a gravidade do que fizeram nem as suas conseqüências. Temiam pois sabiam que estar diante de Deus é como estar diante do espelho da verdade. A presença do Eterno os impeliria à reflexão, dor, choro, restauração e conseqüente transformação. Aproximar-se de Deus é arriscar-se à mudar. Eles não gostam de pensar nisso, preferem fugir: “ouvi a tua voz no jardim, e, temi, porque estava nu, e me escondi”. Começam a jogar a culpa adiante. Novamente parecem crianças balbuciando desculpas esfarrapadas ao invés de assumirem e voltarem atrás. A continuidade da conversa é catastrófica. MAS DEUS NÃO DESISTE DE NÓS. E assim o tempo e o espaço são testemunhas da voz de Deus que ecoa: “ADÃO, ONDE ESTAS?’
Ele nos busca e por vezes nos escondemos e por isso parece que Ele não vai nos encontrar. Quando chega não nos acha nem ouve a nossa voz. Fugimos. Mas Ele insiste até nos encontrar. Deus continua procurando seus filhos fujões, perdidos, quer encontrá-los para matar a saudade, a cena é tão forte na parábola do filho pródigo.
Há quem pense num Deus que busca para punir, para requerer explicações, mas na cena da parábola o mais importante é abraçar, beijar, festejar, as explicações não só não são requeridas como são ignoradas, o mais importante é beijar e receber o filho que voltou, é saber que de agora em diante a alegria voltou à casa.

Ele está com saudade, deseja o reencontro, quer festejar, não feche a porta.

sábado, 5 de janeiro de 2008

C0NTO DOS MEUS QUARENTA ANOS

Hoje acordei com uma sensação estranha, algo mudou em mim. De agora em diante todas as vezes que perguntarem quantos anos já vivi terei que responder algo terminado em ENTA, agora há uma uniformidade até completar um século, então serei ENTO. Tenho medo das uniformidades, sou avesso a elas. Terei que achar tudo que é jovem enjoativo, acho que não estou preparado pra ser um ENTA. Agora terei que amadurecer, o diabo é que depois do amadurecimento vem o que? Se não me engano no mundo vegetal quando algo passa do amadurecimento entra no “PASSADO” e depois no APODRECIMENTO, acho que não estou preparado pra isso também não. Mas os meus amigos me consolam dizendo que a vida começa aos quarenta e eu cético pergunto, será? Se a vida começa aos quarenta, então o que foi que experimentei até agora? Pergunto isso porque às vezes me sinto como Casemiro de Abreu: “Ai que saudade da aurora da minha vida ...”, mas pra citar Casemiro de Abreu tem que ser ENTA, pra isso eu estou preparado. Pergunto isso porque quando vejo os ENTA que já vivi e vejo tantas histórias, tantas lágrimas derramadas e tantos risos que dei, não posso acreditar que a vida ainda não começou. Dos ENTA que já vivi 14 dediquei a Itinga da Serra e as pessoas amadas que lá deixei. Lembro do meu chão, do meu torrão, da gente simples, do pé de acácia, das laranjas roubadas, da primeira namorada, das quermesses. Lembro de amigos (daqueles que juramos que serão nossos amigos para sempre e que já nos esquecemos), a primeira professora Lindaura, dos vidros quebrados da igreja matriz, das pescarias com meu pai (como tenho saudade do seu olhar e do seu coração materno), do peixe assado na beira do rio, do beiju comido no meio da feira, do fogão de lenha da minha vó (Dindinha, Dona Maria do Nelson – que mulher de fibra), do pé de goiaba, do pão quente no fim da tarde na venda do Zé de Martins e da comida saborosa de Dona Eliete, uma guerreira ousada – sabores inesquecíveis que tem o gosto da saudade. O último natal passado na Grande Família, parecia me despedir, inesquecível. Dos meus ENTA, 3 dediquei a me reencontrar na cidade grande. Aqui perdi a minha identidade, virei Sergipano, eu era simplesmente o Sergipe, muito embora nunca, jamais tivesse pisado os meus pés em qualquer lugar que não fosse a Bahia, mas a minha fala, diziam os soteropolitanos que eu não falava, cantava. Como as pessoas podem ser tão cruéis. A minha timidez me fez afundar, quase desapareci. Antes eu tinha nome, sobrenome, tinha pai, mãe e família grande, agora eu era simplesmente o Sergipano, odiei esta cidade e por três anos vivi um sonho, voltar. Eu que vim pra grande cidade pra sobreviver. Como tantos outros vim como um retirante, sem eira nem beira, “um rapaz latino-americano, sem parentes importantes e vindo do interior”, mas que nutria um sentimento, um desejo: voltar. Não deu pra cumprir o prometido. Como chorei, como sofri, vivi a minha grande tribulação por longos três anos e meio. Fui me acostumando e vivi dois anos mortos, deles quase não tenho lembrança e nenhuma saudade, senão de uma ou duas situações.
Então fui ao seminário. Ah! Seminário. O Velho Navio Negreiro, poucas pessoas no mundo saberão o que significa o Velho Navio Negreiro. Só os membros da confraria. Quatro anos, dez por cento dos ENTA, passei no seminário, nunca tinha me dado conta disso, mas valeu a pena. Quanta saudade da Colina, dos banhos, das crises, das peladas, da biblioteca, das noites insones estudando para o GQ – eu até já esqueci o que significa GQ, mas era terrível quando chegava a véspera do GQ. Banhos de piscina escondido no Colégio Batista, as bombas nos corredores, a irresponsabilidade, o compromisso de construir uma história, de manter uma tradição quebrando o tradicionalismo. Lá aprendi a pensar, a discordar amavelmente. Tantos professores dentro e fora da sala de aula. Gente que se foi antes do combinado, outros se perderam no caminho, outros tantos permanecem aí lutando pra manter vivo o sonho de uma sociedade mais justa e mais humana. Lá vivi amores e decepções, chorei e fiz alguém chorar, briguei, bati, vivi.
Dá pra perceber como acordei estranho hoje? É como se tivesse que me reconciliar pra recomeçar. Tivesse que encontrar tempo pra me reencontrar. Os meus muitos “eus” – tenho medo de dizer isso perto dos religiosos, podem identificar isso como “legião” e podem querer me exorcizar, mas eu gosto de todos eles e se umzinho só for mandado embora, não serei mais o mesmo – mas como dizia, preciso me reencontrar com todos os meus “eus” para que possamos prosseguir na segunda parte dessa jornada. Que alguns dizem que ainda não começou e daí surgiu esse meu questionamento que não me permite avançar até tê-lo completamente resolvido. Se ainda não começou como explicar os meus 14 anos na CORDEIRO, como escrever a história da minha vida sem incluir pessoas, rostos, histórias, dores, alegrias, nascimentos e mortes experimentados e vivenciados ao logo dos últimos 14 anos. Neste tempo me casei, perdi meus pais, que agora estão encantados (Guimarães Rosa), recebi minha filha, um presente de valor inestimado, eu a olho sempre com o olhar de quem se despede. Não sei quanto tempo teremos um ao outro.
Se é verdade que ainda não comecei a viver o que dizer dessas cicatrizes, cada uma com sua história, com sua dor, sua derrota, sua vitória e seu riso? Se não comecei a viver como explicar tanta saudade, tanto desejo de reencontro, tantos momentos eternizados na minha memória?



Escrito em 11 de agosto de 2006

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

ALEGRE-SE


O salmo 100 (jubilate, isto é, alegrai-vos), inicia chamando as pessoas a “cantar com alegria”. Um dos ensinos deste salmo é que a característica marcante da nossa vida deve ser a alegria.
As razões para a alegria são listadas no contexto do próprio salmo. NO salmo anterior (salmo 99) lemos: “o Senhor reina”.
Alegre-se porque o Senhor é Deus (v. 3) e Ele reina. Os reinos humanos passam (Isaías 6:1), a glória humana se desvanece (Mateus 6:29), até mesmo os problemas, tristezas, oposições e aflições que passamos não duram para sempre (salmo 30:5), mas o Senhor e o seu reino duram para todo o sempre “vi ao Senhor assentado num alto e sublime trono” e “O Senhor reina, tremam os povos; ele está entronizado acima dos querubins” (Isaías 6:1; Salmo 99:1).
Alegre-se porque você pertence a Ele (Salmo 100:3). Você pertence a Ele, é povo dele por criação e por redenção. O Senhor Jesus pagou o preço por sua vida e agora você é dele (I Pedro 2:9, 10).
Alegre-se porque o Senhor é o seu pastor (v. 3). É Ele quem lhe guia, lhe protege, lhe leva as águas tranqüilas e aos pastos verdejantes. É Ele quem lhe guarda quando você está atravessando o vale da sombra da morte e que com a sua vara e o seu cajado lhe protege (salmo 23).
Alegre-se porque o Senhor é bom e a sua bondade e a sua fidelidade não tem fim (v. 4). A Palavra diz que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não tem fim; novas são a cada manhã; grande é a tua fidelidade” (Lamentações 3:21, 22).
Por tudo isso: Alegre-se. O salmista chama: “Entrai pelas portas dele com LOUVOR, e em seus átrios com hinos, LOUVAI-O, e bendizei o seu nome”. Alguém ainda poderá estar se perguntando se apesar de todas as lutas e problemas que tem atravessado também deve louvar. O próprio salmo responde a esta questão: “Celebrai com júbilo ao Senhor, TODOS OS MORADORES DA TERRA”. Isto inclui você. Alegre-se porque o Senhor é Deus, porque o Senhor reina, porque você pertence a Ele, porque Ele é o seu pastor, porque Ele é bom e a sua bondade e a sua fidelidade são eternas. Faça da alegria a sua expressão de louvor.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Batismo de Fernanda





Um dia muito especial 30/12/07. Fernanda entendeu a graça e entregou-se à ela.

APRESENTAÇÃO

Seja Bem Vindo ao Caminho de Graça!!


Minha proposta é que este seja um espaço onde você possa se assentar à sombra da graça, reabastecer-se emocional e espiritualmente e assim revigorado poder reiniciar a sua caminhada disposto a destilar a graça sobre a vida dos outros peregrinos.

Desejo ainda que este espaço lhe aponte a direção para as pastagens verdes e as águas tranquilas onde possa descansar desse sol causticante que muitas vezes tem nos afligido, enfim desejo que sua estada aqui seja, no seu caminhar diário, espaço de bondade, de verdade e de paz.



Roberto Amorim