segunda-feira, 5 de julho de 2021

Monopólio do Sagrado: Delírio ou Estelionato

 A coisa mais nefasta da religiosidade de mercado não é preço da commoditie celestial. Mas o fundamento que justifica o preço: o monopólio do sagrado. Com a alta demanda por produtos como milagre, absolutamente necessário em virtude das múltiplas tragédias que nos cercam: acúmulo indecente do capital, pela expropriação, pela exploração, pela banalização da violência, pelo desprezo com a vida humana, pelo abandono, etc., a que estão relegados os excluídos, e na tentativa de tornar a vida ao menos suportável, com uma oferta bastante escassa, ao menos do produto genuíno, cria-se o ambiente absolutamente favorável ao surgimento de produtos sem eficácia, de placebos, falsificados, etc.

Um dos gargalos que beneficia a Religiosidade de Mercado é a Auto-regulamentação, ou seja, a indústria da fé é a responsável por atestar a autenticidade dos seus produtos, e é ela quem determina quem são os “infiéis”. Quem já não viu o sensor na TV chamando a todos os que dele discordam de “esquerdopatas” ou coisas do gênero?

O depoimento do Senhor Wizard à CPI da Covid escancara a porta do quarto mais secreto na fábrica da picaretagem religiosa. Mostra que os produtos tidos como genuínos não resistem ao menor teste de qualidade. Exposto a um pouco de luz fez derreter a cera do engano. Aquilo que de longe, e especialmente longe do fogo, parece ser o mais fino produto e o mais excelente acabamento de uma obra perfeita.

Não se engane, Deus não se deixa aprisionar. Deus não está preso à fórmulas, a esquemas (nem mesmo e principalmente os religiosos). É sabido que Jesus não tinha predileção por religiosos nem se deixava enganar por discursos e nem mesmo determinadas práticas tidas como piedosas. Alertou os seus para o perigo dos falsos que falam e dizem agir em seu Nome. “Acaltelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós, vestidos como ovelhas, mas que no íntimo são lobos devoradores” (Mateus 7:15).  Ele disse ainda: “Nem todo que vive com o meu nome na Boca dizendo: Senhor, entrará no Reino” (Mateus 7:21).

Deus não é monopólio de ninguém e de nenhuma religião. Jesus revelou-se a todos e todas. Declarou fé invejável entre aqueles que não faziam parte da religião hegemônica no seu país: Elogiou um romano por sua fé, fez o mesmo com uma mulher cananéia. Diz, no Evangelho de Mateus 24 e 25 que dentre os que são elogiados no último dia estão pessoas que não pertencem ao espectro religioso hegemônico e que ficarão surpresas com o elogio e dirão: mas quando te fizemos isso? “O Espírito é livre e sopra onde quer e não sabes donde vem, nem para onde vai”. Deus não está nem lá, nem aqui, está entre. O resto é delírio ou estelionato.