domingo, 25 de outubro de 2009

MUNDO DA CRIANÇA

“Era uma vez ... e foram felizes para sempre”. Assim sempre começavam e terminavam as histórias que embalaram sonhos e vidas por muitas gerações. Entre estas duas frases verdadeiras batalhas, monstros, seres maus, mocinho, o bem que vence o mal e todos sorriam na cena final.
Mas o mundo real é tão diferente e cruel, tão desumano e nele as nossas crianças estão em perigo constante: balas perdidas, pedofilia, agressão e violência. Aqui nem sempre o lobo mau e as feiticeiras más são destruídos ou presos pra sempre.
Quanto mais penso nisso mais me sensibilizo com nossas crianças, e me pergunto como embalar os seus sonhos num mundo tão cruel? Aí me socorre Guido Orefice, personagem principal do filme “a vida é bela”. No filme Guido é levado para um campo de concentração nazista e tem que usar sua imaginação para fazer seu filhinho acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo do terror e da violência que os cercam. Com ele aprendemos como manter a esperança em meio à guerra, como não permitir que as dores do tempo presente tirem da criança o prazer de ser criança e a alegria de brincar.
Me dirão os “especialistas” que isso é fuga da realidade e dou de ombros pra eles, pois me assombra toda vez que vejo uma criança realista e responsável demais, me faz estremecer uma criança “consciente demais” das realidades deste mundo, fico abalado toda vez que vejo uma criança amedrontada não pelos ‘monstros’ que habitam seu mundo imaginário, mas pela realidade da violência que lhe cerca, das balas perdidas e dos assaltos freqüentes.
Hoje queremos prestar uma homenagem justa às crianças no mês dedicado a elas, queremos dedicar-lhes a homenagem ao tempo em que também nós voltamos no tempo pra brincar as brincadeiras de criança, pra entrar de novo no mundo da imaginação, do circo e do palhaço, pra dar aquele doce sorriso que dávamos nos tempos de menino, sem compromissos e sem medos. Poder reencontrar o nosso mundo imaginário e por um tempo, por menor que seja este tempo, poder brincar e sorrir.
Aliás, quem sabe fazendo assim possamos entender as palavras de Jesus: “quem não se tornar como criança, não pode herdar o reino”, quem sabe assim possamos não apenas entrar no mundo das crianças, mas permitir que o seu mundo nos invada e encha de cores, luzes e esperança a nossa vida tão adulta e tão séria.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ConVIVER


“Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Amós 3:3)

Fomos criados para a vida comunitária. Aliás, o próprio Criador ao ver aquele que foi feito à sua Imagem e Semelhança zanzando sozinho pelo paraíso, concluiu que “não era bom para o homem viver solitariamente”. Somos feitos para habitar em comunidade, para viver em grupo. Somos seres relacionais. Portanto viver implica em conviver, ou seja, viver com ..., embora esta não seja uma tarefa fácil, tanto que apesar dos milhares de anos que habitamos o planeta ainda ouvimos de guerras, brigas, desentendimentos e separações. Mas também é verdade que apesar de milhares de anos acontecendo isso ainda não nos acostumamos e sempre que uma separação ocorre sentimos, sofremos. Na separação, na briga, no desentendimento, na guerra não há vencedores, só perdedores, à medida que não cumprimos o propósito divino de vivermos, ou melhor, convivermos (com o outro, nosso irmão).
Também o povo de Deus tem experimentado isso ao longo dos séculos. Existem as separações por interesses conflitantes como foi o caso de Abrão e Ló, dois servos de Deus que em determinado momento embora se amassem já não podiam conviver, porque os interesses pessoais estavam em pleno conflito (Gn 13:8, 9). Também existem separações por visões ministeriais diferentes, como foi o caso de Paulo e Barnabé. Embora fossem homens de Deus, mas divergiram porque Paulo entendia diferente de Barnabé em relação à presença de Marcos na viagem missionária (Atos 15:36-41). Existem ainda separações por não suportar o preço a ser pago no discipulado (João 6:66-69). Na linguagem do profeta Amós tudo isso pode ser resumido na seguinte frase: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?”
Conviver é uma necessidade, mas para experimentar a convivência que agrada ao Criador é necessário que haja harmonia e isso vem a partir de entendimentos e acomodações. Viver em comunidade requer a compreensão de que minha relação como o outro é feita de direitos e deveres. Mais que compreensão é preciso vivenciar a verdade de que “meu direito termina onde começa o direito do outro”. Sem isso fica impossível a convivência e daí surgem os conflitos, as divisões, as separações. Verdadeiramente sem acordo não é possível andar junto.
Erram os que imaginam que estes problemas não podem existir no meio do povo de Deus. O mais importante no meio do povo de Deus, não é que não temos estes problemas, mas como os resolvemos. Mais importante que as separações é como ficam as relações depois delas. No caso de Abrão e Ló, jamais se ouviu nos lábios de qualquer um deles palavras de desafeto ou de maldição em relação ao outro. No caso de Paulo e Barnabé, sabemos que depois de algum tempo o próprio Espírito convence o Apóstolo Paulo a ponto dele se sentir à vontade para reconhecer que o ministério de Marcos é uma bênção para o próprio Paulo (II Tm 4:11). Bom seria se aprendêssemos com Pedro que antes de dividir e abandonar o ministério chegar à conclusão extraordinária: aquilo que nos une deve ser sempre maior do que aquilo que eventualmente poderia nos separar – “ir pra onde, Senhor. Só tu tens palavras de Vida Eterna?” (João 6:68).

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dai-lhes Vós de Comer

O ser humano tem cinco necessidades fundamentais, dentre elas quero chamar a atenção para uma: necessidade de Amor e Relacionamentos. A necessidade de ter amigos. uma família, alguém a quem amar e alguém por quem ser amado.
O mundo viveu uma das suas piores crises econômicas, mas há muito tempo sofremos de uma crise ainda mais grave e que poucos parecem perceber e se preocupar: a crise de afeto. Somos uma população, que poderia criar o MSA (Movimento dos Sem Afeto). A venda recorde de tranqüilizantes e de ansiolíticos denuncia que a falta de afeto tem trazido grande prejuízos para a maior parte da população do mundo.
Nos tornamos espertos demais. maliciosos demais, aderimos à filosofia do Gérson (levar vantagem), tememos levar desvantagem no balanço de afeto, dando mais do que recebendo e fomos trocando afetos verdadeiros por falsos e os relacionamentos tornam-se interesseiros, de desconfiança mútua, insensíveis, falsos e que por conta disso a vida ficou menos interessante. O resultado é um mundo onde amizades verdadeiras são cada vez mais difíceis e onde a beleza das pessoas afetuosas se tornam cada vez mais raras.
Particularmente sou tocado por pessoas que não se curvaram a esta lógica louca e continuam vivendo a sua humanidade afetuosa, construindo relacionamentos de amizade e de confiança mesmo quando são traídas, mesmo quando em troca do seu amor receberam a traição, assim como Jesus, que ao seu traidor declara a sua amizade (Mt 26:50). Sou tocado por pessoas que, vivem para saciar esta necessidade do mundo e reproduzir o modelo de vida de Jesus: amar até os inimigos.
Fui tocado especialmente na despedida da irmã Maria José, pessoa que não conheci pessoalmente, mas que ao perceber no choro silencioso de tantos, de tantas idades e por tantas diferentes razões, me dei conta que o mundo perdia uma dessas pessoas que distribui afeto, atenção, compreensão e amor, alguém assim parecida com Jesus. E assim o nosso mundo fica mais pobre a ainda mais carente de afeto ...
Quando olho pra este cenário pobre de afeto, um mundo tão carente e esta grande necessidade do ser humano quase posso ouvir Jesus dizendo: Dai-lhes vós de comer ...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O QUINTO PARDAL*

A promoção é clara: leve 5 e pague 4, ou seja o quinto é de graça. Quando pagamos o valor, pagamos apenas por 4, isso significa que o quinto não tem valor, não tem preço, é de graça. A barganha e o brinde sempre estiveram presentes nas transações comerciais. Na bíblia quando comparamos os textos de Mateus 10:29 e Lucas 12:6 concluímos que Jesus está se referindo à promoção de pardais. Em Mateus é dito que 2 pardais são comprados por um asse (moeda de menor valor nos dias de Jesus), já em Lucas 12:6 Jesus afirma que com 2 asses (duas moedinhas) você compra 5 pardais, ou seja o quinto pardal sai de graça.
Jesus usa este exemplo para falar do valor de cada ser humano. Há pessoas cujo senso de desvalor é muito grande e por isso precisam estar perto de gente importante pra se sentir importante e assim quem sabe formar a dupla de pardais que podem ser comprados por uma moedinha. Há também os que tentam se valorizar buscando títulos, não porque entendem que os títulos sejam a recompensa pelo esforço pelo saber, mas tem no uma forma de quantificar o seu valor. Há pessoas que o valor está em ter ou em parecer que tem e por isso não é incomum usar as marcas, as grifes de gente famosa pra ver se o embrulho valoriza o conteúdo. São pessoas com síndrome de pardal, acreditando mesmo sem dizer que não valem mais que uma moedinha, que podem ser comprados ou tidos por pessoas insignificantes.
Mas há um estado ainda pior. São as pessoas que se julgam o quinto pardal, o contrapeso, o brinde, o sem valor. Aquela menina que quando sabe que o rapaz está interessado começa a se perguntar o que ele viu nela? É aquela pessoa que quando a oportunidade de emprego surge e a entrevista é marcada fica morrendo de medo de fracassar, pensando que aquilo que será perguntado, será exatamente o que eu não sei. Aquela pessoa que desistiu do concurso e do vestibular porque se acha menos inteligente e tem medo que sua ignorância fique exposta, afinal ela não passa do pardal da promoção.
Jesus, aquele que sabe o real valor de cada vida e portanto o valor da sua vida nos diz em ambos os textos: “vocês são valiosos para Deus a tal ponto que mesmo as coisas mais insignificantes em vocês, Ele as tem por preciosas” (Mateus 10:30) e culmina com a frase de que não somos nem o quinto pardal, sem valor, nem um dos pares dos pardais que são comprados por valor irrisório, mas que valemos mais que muitos pardais, que somos preciosos aos olhos de Deus (Mateus 10:31). A bíblia diz que Deus não é homem para que minta nem filho de homem para que se arrependa. Se Jesus afirma que tenho valor preciso me valorizar na mesma medida em que Deus, o meu Deus me valoriza. Pense nisso ...
Roberto Amorim
*Baseado numa idéia do Livro de Max Lucado: “Sem medo de viver”