Existe uma fórmula para ser feliz:
Não ame. Quem ama corre o risco de sofrer, de chorar sem razão, mas também de
sorrir no meio de uma tarde de sol causticante, de viajar por espaços
inimagináveis para lembrar de um gosto, de um gesto, de um sabor. Mas até isso
nos faz sofrer (um sofrimento acalentado pela certeza de que é melhor sofrer de
amor do que não amar).
Quem ama, morre um pouco quando
pessoas amadas ficam encantadas. Morremos um pouco, parte de nós parte,
histórias que completam aquelas lacunas em branco na nossa memória se vão para
nunca mais. Aquele jeito de nos acolher, aquele olhar que diz o que as palavras
não são capazes de expressar permanecerão pra sempre no bolso da alma.
Hoje, especialmente hoje, sofro.
Sofro porque amei, porque minha memória insiste em lembrar tudo que vivi e não
posso mais voltar. Lembro até de histórias que não vivi, mas que contaram. De
uma menina, abandonada pelo pai e que por conta disso teve que abdicar do sonho
de ser professora. De uma guerreira que teve que ser forjada no forno mais quente,
no ambiente mais duro, na existência difícil e que por conta disso precisa
construir os seus castelos sobre os sobrenomes (que lhe pertenciam, mas que
nada mais significavam do que palavras, visto que do sobrenome só ficaram as
palavras, ela era a gata borralheira a quem estaria destinada as tarefas que
ninguém mais quisesse fazer, por considerarem menos relevantes), construindo
sua narrativa mais baseada nos sonhos que nos fatos para poder aguentar o peso
da existência. Da mulher que teve como espelho outra guerreira que lhe ensinou
que maternidade é estender as asas sobre as crias e ter um coração do tamanho
do mundo. De uma sonhadora que jamais desistia, nem se acovardava diante dos
gigantes. Ainda me lembro dela indo fazer o curso da Casinha Feliz - aquilo era
mais que um curso, era a ressurreição de um sonho adormecido no fundo da alma.
Sair de casa, já mãe de filhos adolescentes, para realizar o sonho de menina (ser
professora).
Sim, definitivamente morremos um
pouco a cada dia, mas morremos um pouco mais quando as pessoas que amamos se
vão. Mas também é verdade que assim como morremos um pouco quando elas se
encantam, elas vivem um pouco em nós, e assim o sonho da vida eterna começa a
tomar forma. Elas continuam a existir mesmo não estando mais entre nós.
Com esta memória viva quero aqui expressar
a minha justa homenagem a esta menina, mulher, sonhadora e guerreira, Dona
Eliete. Obrigado, mãe. Hoje eu lhe canto: “seu maquinista é favor parar o trem
que hoje (quero homenagear) a quem tanto eu quero bem ...”
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