O AMOR E A LÁGRIMA
Seu Hipólito era homem muito
querido e respeitado, também era conhecido por ter uma saúde de ferro. Mas um
dia, de repente caiu em cima de uma cama com mal incurável. Por seu histórico
de boa saúde todos esperavam uma cura tão repentina quanto a doença. Mas os
dias se passavam e o velho Hipólito só definhava sobre a cama e gemia de dores.
A crença numa cura era cada vez menor entre os amigos e até a própria família.
A única que ainda se aferrava a esta crença era Elvira.
Numa manhã cinzenta a velha
curandeira chamou Elvira e lhe aconselhou: Minha filha, seu pai só está
esperando que você o libere. Desagarre dele e o deixe ir, pare com esse
sofrimento. Hipólito jazia numa cama, morre-não-morre. Dias, semanas e meses
naquela agonia e sofrimento. Atendido o pedido da velha curandeira, Hipólito
partiu naquela mesma tarde. Como nos conta Adélia Prado: “amor é a coisa mais
alegre. Amor é a coisa mais triste”. A vida deu Hipólito como um presente, mas quem
nos faz sorrir de amor, de amor nos mata ao partir. A coisa mais triste e
mais maravilhosa no amor é aprender a deixar ir, abrir mão de dominar, se
recusar a prender.
O amor não tem gaiolas, nem
correntes. Amor é vento: livre, leve e solto. O amor engaiolado é como o ar
engarrafado, não serve, nem tem frescor e nem emburra jangadas para as
aventuras em alto mar. Amar é não ter garantias, o amor não pode ser declarado
à priori, como eterno. Amar é não ter livros de contabilidade, é não esperar
reciprocidade, afinal amor não se paga. Amar é abrir mão pelo bem estar do ser
amado mesmo que isso custe uma lágrima.