quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Parábolas - Filho Pródigo III

O Pródigo

Desse personagem não preciso escrever tanto, e se escrevesse teria que fazer uma auto-biografia. Um tolo em busca da felicidade. Alguém que acredita que a grama do vizinho é sempre mais verde. Um crédulo que acreditou que a bijouteria que reluz do lado de lá é mais valiosa que a pérola que possui e está disposto a vendê-la para desfrutar o prazer daquilo que reluz do lado de lá. O faminto de prazer que acredita que as migalhas de lá alimentam mais que o banquete de cá. O filho pródigo somos todos nós que já experimentamos a cabeça entre as mãos, na sarjeta, diante da grande questão: “como pude chegar a esta situação?”
Mas ser o mais moço é também ter experimentado, mesmo que de maneira incompleta e imperfeita o amor do Pai, é alguém com um coração sensível. É ter sido afetado pelo coração amoroso do Pai ainda que tenhamos compreendido erroneamente este amor, ainda que tenhamos confundido tudo a ponto de chegarmos a pedir a nossa parte na herança, mas lá, no país distante quando todas as esperanças se mostram vãs, é esse amor que nos faz despertar e acreditar que o amor é incondicional e que nos receberá de volta apesar do que fizemos.
Jamais será aceito plenamente pelo irmão mais velho. Será sempre alvo do seu julgamento, da sua desconfiança, do seu desprezo. O irmão mais velho jamais o perdoará, seus feitos foram grandes demais, seus erros imperdoáveis. Quantos irmãos mais velhos estão torcendo para os mais novos perderem, caírem em desgraça para que eles os pisem, se vangloriem. Um bom teste para ver quem é um irmão mais velho é perguntar-se o que você realmente sente quando vê alguém na sarjeta, especialmente aqueles que discordam de você na doutrina, na maneira de ver a vida.
Um pródigo jamais sentirá a vida do mesmo jeito, jamais esquecerá do hálito da graça, jamais deixará de olhar com misericórdia os errantes, ou na linguagem do poeta sacro: ‘olhar com simpatia os erros de um irmão’. O pródigo é alguém que já não tem falsas pretensões, nem tem idéia de si maior do que convém. É alguém que sabe da sua humanidade, das suas limitações, alguém que conhece sua persona e sua sombra. Imperfeito, mas saudável. E aprendeu a tratar os outros com a mesma compaixão. É alguém que sabe que se pode confiar em alguma coisa é no amor incondicional do Pai que ama o inamável, perdoa o imperdoável, acolhe o repulsivo e recebe o inaceitável.
Uma constatação na vida do filho mais jovem é que o que mais desejava podia ser encontrado nas coisas mais simples e que sempre estiveram tão perto, mas como diz a canção parece que é “do inferno que se vê o Paraíso”...

Um comentário:

Perola disse...

Caraca, é triste, mas também ajo assim na boa parte do meu pouco tempo.
Sempre enchergo a busca do outro!
Quem nunca agiu como filho rebelde?
Quem nunca foi sensato demais at enjoar e passar a ser rebelde?

O texto é um espelho, só reflete a imagem quem ver ele.
Como sempre obrigada!
Apesar de ser grande suas msg, elas são como oceanos:Profundas e ricas.

Bjão