terça-feira, 25 de maio de 2010

RENOVANDO E INOVANDO

Assisti a um filme que tem o título em inglês “Ladyhawke”. Uma linda história de amor, inspirada numa lenda antiga fala dos inimigos do amor verdadeiro. Um religioso lança uma maldição sobre o casal que fica impedido de viver plenamente seu amor. A maldição fez com que vivam ela como uma Ave durante o dia e ele como Lobo à noite. Mas narra também a vitória de um amor que é maior que todos os inimigos. Após intensas lutas e dores, conseguem se livrar da maldição e desfrutam do amor que é mais forte que a morte.
A história fala dos inimigos do verdadeiro amor e da luta dos que amam para manter vivo o amor que dá cor, cheiro e sabor à vida. Para os que amam, a vida sem amor é meia vida. Na canção de Djavan “só sei viver se for por você”. Quem ama também sabe que "Amar é quase uma dor".
Disso tiramos duas conclusões óbvias: primeiro, amar vale a pena. Segundo, amar tem seu preço. Hoje celebramos as renovações de votos matrimoniais, as juras de amor, a alegria de amar para sempre.
Mas hoje tem que ser dia de um compromisso novo, de uma nova aliança. A aliança da inovação, da reinvenção do amor que não envelhece, da redescoberta do amor que carece de cuidado diário porque é como a chama frágil de uma vela, que ao menor vento pode estremecer. Não é só renovar, mas inovar. Fazer um amor novo, olhado de um novo prisma, de um outro ponto de vista. O poema abaixo pode ser visto de dois pontos de vista diferentes, e isso faz toda a diferença. Leia pacientemente:

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais..."
Agora leia de novo, mas de um jeito diferente. Leia de baixo pra cima.
Como diz a canção: “Cuide tudo que for verdadeiro / Deixe tudo que não for passar / Palavras duras em voz de veludo / E tudo muda, adeus velho mundo / Há um segundo tudo estava em paz / Cuide bem do seu amor ...”

Ame, vale a pena apesar das lutas. Lute por seu amor, apesar das dores, vale a pena.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

PPP Preço da Paz Permanente

Um episódio ocupou as páginas dos jornais e as mentes das pessoas em todo o mundo durante a última semana. O acordo entre o Brasil, a Turquia e o Irã. Era visível que alguns tanto no Brasil quanto fora torciam para que a missão do Presidente Lula no Irã fosse um fracasso. Caso fosse bem sucedido em sua missão o mundo inteiro poderia respirar mais aliviado, por não temer que armas de destruição em massa estivessem nas mãos de loucos radicais. Ora, se era algo tão bom, por que tinha gente torcendo contra? A torcida contra foi tão grande, que tão logo o acordo foi fechado saíram alguns a dizer que uma coisa era dizer, outra coisa era assinar. Outros falaram que uma coisa era assinar, outra coisa era cumpri-lo. E mais tarde outros disseram que apesar de assinar e até cumprir, o acordo tinha por intenção ganhar tempo até que o Irã tenha condições de produzir a bomba. Era tão evidente a vontade de que o acordo não desse certo, que imediatamente os Estados Unidos enviaram a ONU proposta de mais sanções contra o Irã. Segundo alguns para acreditar no Irã é preciso certa dose de ingenuidade, é preciso ser infantil.
Paz é a grande necessidade do mundo, apesar disso, parece que não é uma prioridade pra todos, nem o anseio de alguns. Posso listar diversas razões pra isso.
Em primeiro lugar, porque fazer guerra é mais fácil que promover a paz. Para uma guerra se instalar basta um olhar, um gesto, uma palavra, uma agressão, um tiro, um interesse contrariado, enquanto que para alcançar a paz é preciso reconhecer o erro, abrir mão de direitos, acreditar no outro, é preciso ser um otimista mórbido, é preciso ser criança.
Em segundo lugar, porque a guerra pode ser mais lucrativa que a paz. Os mercadores da morte fazem sua riqueza e sua fama na violência da guerra. Seu lema é “Sua tristeza é nossa maior alegria”.
Em Terceiro lugar, porque a guerra e o ódio podem ser muito mais produtivos e duradouros que a paz e o amor. Por conta dos recursos envolvidos e da pesquisa para se aprimorar a máquina de matar, traz como efeito colateral benefícios tecnológicos para a sociedade em geral. Também é inegável que o ódio pode ser um colante mais poderoso que o amor e a paz. As relações baseadas no ódio e no medo tendem a ser mais duradouras que aquelas mantidas por amor, como diz o poeta: “Não seja imortal, posto que é chama”, a chama do amor é chama de vela, o fogo do ódio é fogo de vulcão, uma chama quase inextinguível.
O episódio do Irã serve muito bem para ilustrar as nossas relações interpessoais. As lições mais evidentes são: há muita gente dizendo amar a paz, mas que está mais interessada em guerra, em inimizade, em fomentar os sentimentos ruins. Tem gente que se alimenta de ódio e tem grande interesse em promovê-lo e por fim, o ódio, se alimentado, torna-se inextinguível.
Para acreditar num mundo de paz é preciso ser ingênuo, é preciso ter a alma pueril, infantil, ser como criança. Não há nada que mais deseje para a minha vida. Desejo ardentemente me tornar cada vez mais como criança, coração puro, que faz do inimigo de ontem o melhor amigo de hoje. Para que a paz reine entre nós, não há outro jeito. É abrir mão da maturidade odiosa dos adultos e tornar-se imaturamente amoroso, como as crianças.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mãe: Anjo Divino

No dia das mães recordo da minha infância. Talvez porque seja invadido por aquela idéia maternal de que os filhos permanecem pra sempre crianças. Os analistas de plantão dirão que talvez seja Síndrome de Peter Pan. Mas talvez seja só um desejo de reencontrar um tempo, personagens e cenários que só habitam os porões da minha alma. Seja qual for a razão me faz muito bem. Lembrar as brincadeiras de carrinhos de rolimã, de fura pé, as cantigas de roda, boca de forno, dos banhos de chuva e dos mergulhos no rio, pulando da ponte velha. Como tenho pena da minha filha e suas brincadeiras assepticas e virtuais.
Mas também no dia das mães relembro os conselhos da minha mãe, dos ditados populares que eram citados à exaustão e que de uma forma ou de outra contribuíram para ser quem sou e fazer o que faço. Tenho pra mim que se Adão e Eva no paraíso tivessem ouvido estes conselhos, teriam pensado duas vezes antes de comerem do tal fruto do conhecimento.
Quando me ouvia conversando com alguém que poderia me conduzir a caminhos tortuosos (Gn 3:1), cansei de ouvir o ditado: "As Más Companhias Corrompem os Bons Costumes". Numa linguagem ainda mais popular poderia se dizer: "quem se mistura com porcos, farelo come", ou ainda, "quem dá ousadia a cachorro dorme na cinza".
Quando a conversa não cessava e eu argumentava que o tal não queria me perverter, mas apenas conversar (Gn 3:1-3), ela me advertia que o "diabo usa sapatinho de lã", nunca tive coragem de lhe perguntar como sabia disso, afinal de contas sempre soube que o diabo tem cascos, portanto desprovido do privilégio de usar sapatos. E como se não bastasse ainda me informava: "quem quer pegar passarinho não diz, xô". Me advertia dizendo que eu deveria tomar cuidado e não dar muito ouvido à conversa (Gn 3:4), afinal de contas, dizia ela: "Antes que o mal cresça, corte-lhe a cabeça".
Quando chegávamos em casa com propostas de ganho fácil ou de muitas facilidades na vida (Gn 3:5,-7), éramos trazidos à realidade ouvindo: "quando a esmola é demais até o santo desconfia" ou ainda "laranja madura na beira da estrada ou tá bichada Zé, ou tem morimbondo no pé". E se depois disso tudo fizesse ouvido de mercador, e quebrasse a cara, ouvia minha mãe me chamar à responsabilidade dizendo em alto e bom som: "Quem não ouve conselho, ouve coitado".
Mas se há uma coisa que lembro bem da minha mãe é do seu coração. Quantas vezes, depois de todos os conselhos, avisos e reprimendas, saímos da linha e experimentamos a dor, a angústia e o desespero e sempre encontramos um coração afetuoso, molenga. Era capaz de sair do lugar do seu sossego e correr ao nosso encontro (Gn 3:8), era capaz do prover o que precisávamos de forma mais imediata (Gn 3:21). Mas também era capaz de nos animar, de falar do futuro nos enchendo de esperança (Gn 3:15), nos dizendo que "não há bem que muito dure, nem mal que nunca se acabe", e recitando o texto sagrado no chamava a não desanimar: "se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena" (Pv 24:10).

No dias da mães meu coração pueril compreende a verdade que só quando nos tornamos como crianças, somos capazes de conhecer, que Deus tem um coração maternal e que as mães são anjos que Ele nos concedeu para cuidarem de nós e nos ensinarem a voltar ao Paraíso, ao lugar do jardim de Deus (Gn 3:23, 24) onde podemos brincar como crianças, cantar de novo as cantigas de roda: "ciranda, cirandinha vamos todos cirandar ..."