segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mãe: Anjo Divino

No dia das mães recordo da minha infância. Talvez porque seja invadido por aquela idéia maternal de que os filhos permanecem pra sempre crianças. Os analistas de plantão dirão que talvez seja Síndrome de Peter Pan. Mas talvez seja só um desejo de reencontrar um tempo, personagens e cenários que só habitam os porões da minha alma. Seja qual for a razão me faz muito bem. Lembrar as brincadeiras de carrinhos de rolimã, de fura pé, as cantigas de roda, boca de forno, dos banhos de chuva e dos mergulhos no rio, pulando da ponte velha. Como tenho pena da minha filha e suas brincadeiras assepticas e virtuais.
Mas também no dia das mães relembro os conselhos da minha mãe, dos ditados populares que eram citados à exaustão e que de uma forma ou de outra contribuíram para ser quem sou e fazer o que faço. Tenho pra mim que se Adão e Eva no paraíso tivessem ouvido estes conselhos, teriam pensado duas vezes antes de comerem do tal fruto do conhecimento.
Quando me ouvia conversando com alguém que poderia me conduzir a caminhos tortuosos (Gn 3:1), cansei de ouvir o ditado: "As Más Companhias Corrompem os Bons Costumes". Numa linguagem ainda mais popular poderia se dizer: "quem se mistura com porcos, farelo come", ou ainda, "quem dá ousadia a cachorro dorme na cinza".
Quando a conversa não cessava e eu argumentava que o tal não queria me perverter, mas apenas conversar (Gn 3:1-3), ela me advertia que o "diabo usa sapatinho de lã", nunca tive coragem de lhe perguntar como sabia disso, afinal de contas sempre soube que o diabo tem cascos, portanto desprovido do privilégio de usar sapatos. E como se não bastasse ainda me informava: "quem quer pegar passarinho não diz, xô". Me advertia dizendo que eu deveria tomar cuidado e não dar muito ouvido à conversa (Gn 3:4), afinal de contas, dizia ela: "Antes que o mal cresça, corte-lhe a cabeça".
Quando chegávamos em casa com propostas de ganho fácil ou de muitas facilidades na vida (Gn 3:5,-7), éramos trazidos à realidade ouvindo: "quando a esmola é demais até o santo desconfia" ou ainda "laranja madura na beira da estrada ou tá bichada Zé, ou tem morimbondo no pé". E se depois disso tudo fizesse ouvido de mercador, e quebrasse a cara, ouvia minha mãe me chamar à responsabilidade dizendo em alto e bom som: "Quem não ouve conselho, ouve coitado".
Mas se há uma coisa que lembro bem da minha mãe é do seu coração. Quantas vezes, depois de todos os conselhos, avisos e reprimendas, saímos da linha e experimentamos a dor, a angústia e o desespero e sempre encontramos um coração afetuoso, molenga. Era capaz de sair do lugar do seu sossego e correr ao nosso encontro (Gn 3:8), era capaz do prover o que precisávamos de forma mais imediata (Gn 3:21). Mas também era capaz de nos animar, de falar do futuro nos enchendo de esperança (Gn 3:15), nos dizendo que "não há bem que muito dure, nem mal que nunca se acabe", e recitando o texto sagrado no chamava a não desanimar: "se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena" (Pv 24:10).

No dias da mães meu coração pueril compreende a verdade que só quando nos tornamos como crianças, somos capazes de conhecer, que Deus tem um coração maternal e que as mães são anjos que Ele nos concedeu para cuidarem de nós e nos ensinarem a voltar ao Paraíso, ao lugar do jardim de Deus (Gn 3:23, 24) onde podemos brincar como crianças, cantar de novo as cantigas de roda: "ciranda, cirandinha vamos todos cirandar ..."

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