
Mas também no dia das mães relembro os conselhos da minha mãe, dos ditados populares que eram citados à exaustão e que de uma forma ou de outra contribuíram para ser quem sou e fazer o que faço. Tenho pra mim que se Adão e Eva no paraíso tivessem ouvido estes conselhos, teriam pensado duas vezes antes de comerem do tal fruto do conhecimento.
Quando me ouvia conversando com alguém que poderia me conduzir a caminhos tortuosos (Gn 3:1), cansei de ouvir o ditado: "As Más Companhias Corrompem os Bons Costumes". Numa linguagem ainda mais popular poderia se dizer: "quem se mistura com porcos, farelo come", ou ainda, "quem dá ousadia a cachorro dorme na cinza".
Quando a conversa não cessava e eu argumentava que o tal não queria me perverter, mas apenas conversar (Gn 3:1-3), ela me advertia que o "diabo usa sapatinho de lã", nunca tive coragem de lhe perguntar como sabia disso, afinal de contas sempre soube que o diabo tem cascos, portanto desprovido do privilégio de usar sapatos. E como se não bastasse ainda me informava: "quem quer pegar passarinho não diz, xô". Me advertia dizendo que eu deveria tomar cuidado e não dar muito ouvido à conversa (Gn 3:4), afinal de contas, dizia ela: "Antes que o mal cresça, corte-lhe a cabeça".
Quando chegávamos em casa com propostas de ganho fácil ou de muitas facilidades na vida (Gn 3:5,-7), éramos trazidos à realidade ouvindo: "quando a esmola é demais até o santo desconfia" ou ainda "laranja madura na beira da estrada ou tá bichada Zé, ou tem morimbondo no pé". E se depois disso tudo fizesse ouvido de mercador, e quebrasse a cara, ouvia minha mãe me chamar à responsabilidade dizendo em alto e bom som: "Quem não ouve conselho, ouve coitado".
Mas se há uma coisa que lembro bem da minha mãe é do seu coração. Quantas vezes, depois de todos os conselhos, avisos e reprimendas, saímos da linha e experimentamos a dor, a angústia e o desespero e sempre encontramos um coração afetuoso, molenga. Era capaz de sair do lugar do seu sossego e correr ao nosso encontro (Gn 3:8), era capaz do prover o que precisávamos de forma mais imediata (Gn 3:21). Mas também era capaz de nos animar, de falar do futuro nos enchendo de esperança (Gn 3:15), nos dizendo que "não há bem que muito dure, nem mal que nunca se acabe", e recitando o texto sagrado no chamava a não desanimar: "se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena" (Pv 24:10).
No dias da mães meu coração pueril compreende a verdade que só quando nos tornamos como crianças, somos capazes de conhecer, que Deus tem um coração maternal e que as mães são anjos que Ele nos concedeu para cuidarem de nós e nos ensinarem a voltar ao Paraíso, ao lugar do jardim de Deus (Gn 3:23, 24) onde podemos brincar como crianças, cantar de novo as cantigas de roda: "ciranda, cirandinha vamos todos cirandar ..."
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