quarta-feira, 18 de agosto de 2010

LAPIDAR UMA MULHER

"Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Nos foi ordenado apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? " (João 8:4,5)
O mundo está estarrecido com a decisão do tribunal iraniano de condenar à morte, por apedrejamento, uma mulher, apanhada em adultério. O Brasil se ofereceu para recebê-la como refugiada. A minha cabeça gira, sentimentos se misturam, confusão.
Primeiro porque a reação do mundo tem um tom espetacular. Todos parecem estar diante de um fato inusitado, inédito. Na verdade este fato é um deja vu. Só pra falar de outro evento espetacular recente, em 2003 na Nigéria, onde a mulher teve a sentença adiada porque estava amamentando. O tribunal decidiu que ela só seria lapidada (nome dado ao ato de apedrejá-la) até à morte, depois que o filho fora desmamado. Daquela época só resta o poema de Affonso Romano Sant’Anna “Lapidar Uma Mulher”.
Segundo porque a reação de todos parece fazer acreditar que este tipo de barbárie contra a mulher já não mais existe em nossa sociedade. Porém, todos os dias os noticiários falam de homens matando mulheres pelos motivos mais vis, se é que há motivo pra se tirar a vida de alguém. Há cerca de 30 anos atrás um sujeito resolveu marcar o rosto de sua mulher com ferro em brasa com as letras MGSM (Mulher Gaieira Só Matando). Tal violência nos faz estremecer, talvez por causa do tom teatral. Mas violência contra a mulher é algo que vem de longas datas e que infelizmente está longe de terminar e acontece bem mais perto da gente do que se imagina.
No Irã, como na Nigéria e na maioria dos países de religião fundamentalista acredita-se que uma mulher pega em adultério precisa ser lapidada (apedrejada). Mas parece que este também é o sentimento de muitos que acreditam que palavras, pedras, socos, facas, tiros são instrumentos para lapidar a mulher e lavar a honra dos homens.
É interessante que uma única palavra possa ter significados tão diferentes. Lapidar pode significar apedrejar, tirar a vida, matar. Mas na minha infância lapidar significava trabalhar uma pedra preciosa, ressaltar as suas qualidades, tirar todas as imperfeições para que aquilo que é verdadeiramente precioso apareça. Na linguagem de Affonso Romano Sant’Anna:
     “Há quem tente lapidar / uma mulher / como se lapida / jóia rara / e pedra bruta.
      Com escalpelo / cinzel / buril / inscrevem nela uma figura, depois /
       a expõem nos salões / revistas e altares / apregoando quantos camelos /
       quantos colares / vale o dote / -da criatura.
      Na Nigéria também / lapida-se mulher / mas de forma / inda mais dura”.
O maior protesto que se pode fazer contra esta violência cometida no Irã ou na Nigéria, a melhor forma de mostrar a estes bárbaros o quanto estão errados não é oferecer abrigo político, embora seja uma tentativa nobre, mas será que teremos território para abrigar todas as mulheres a serem lapidadas? O que faria o mundo tratar de forma diferente a mulher não é o jogo diplomático. O que fará diferença de verdade é a forma como tratamos as nossas mulheres, é a maneira como as lapidamos. É fazer como Jesus, mesmo quando estiverem erradas receberem a oportunidade de continuarem conduzindo as suas vidas rumo à uma vivencia mais plena, mais digna. É aprender com Jesus a verdadeiramente Lapidar uma mulher: “eu não te condeno, vá e não peques mais”. Vá e viva a vida abundante, e mostre o seu lado mais bonito, mostre-se como uma pessoa digna.
Portanto a minha bandeira de protesto contra a violência feminina no Irã ou em qualquer parte do mundo é que de forma prática, no dia a dia mostremos como se lapida uma mulher.

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