“...há tempo para todo o propósito ... tempo de derrubar e tempo de edificar” - (Ec 3:1,3)
Dois fatos dominaram os noticiários esta semana. As demolições das barracas de praia e da Fonte Nova. Ambos tinham um tom triste, melancólico, saudosista. Vi atletas e torcedores dando declarações e se despedindo da velha Fonte. Também vi barraqueiros chorando ao virem suas barracas e seu ganha-pão tombarem na areia.
Embora os dois sejam demolições e os dois tenham certo ar melancólico e saudosista, há duas lições bem distintas em ambos. Derrubar quase sempre está associado à perda. Normalmente associamos derrubar a algo ruim, sofrimento e dor, mas estes episódios parecem nos mostrar como fatos semelhantes podem trazer experiências e sentimentos diversos.
A demolição das barracas de praia comprova a regra de que derrubar é sempre ruim, sofrido e às vezes até desesperador. Era de cortar coração os depoimentos de homens e mulheres. A falta de perspectiva, a falta de esperança de que alguma coisa acontecesse para minimizar a sua dor ou resolver o problema, fez com que pessoas pensassem em medidas extremas. Pessoas se amarraram a botijões de gás, intentando contra a própria vida, declarando com seu gesto de que lhes faltava esperança pra viver dali por diante e que preferiam até morrer. A demolição era ruim, sem propósito, sem esperança.
Já na demolição da Fonte Nova o sentimento maior era outro. Havia saudade, havia sofrimento, mas havia esperança. A certeza de que o sofrimento será compensado pelo futuro brilhante, pelo estádio melhor que será erguido no mesmo local, faz que a dor seja suportada até com certa alegria, como a mãe que dá a luz. Há despedida, mas ela tem o gosto de reencontro, é partida com sabor de chegada, é adeus com tom de até breve. É a demolição boa, com propósito e cheia de esperança.
Estes dois eventos são parábolas da vida. Na vida podemos experimentar demolições sem propósitos, sem razão de ser. Derrubadas que são só sofrimento e dor, resultado da irresponsabilidade de outro, onde somos apenas vítimas passivas do processo. Uma das piores tragédias da vida é a dor sem lições, dor sem razões. Mas existe outro tipo de demolição. É preciso aprender que dentre os propósitos da existência está o “derrubar”. Precisamos aprender que há horas que a única coisa a fazer é jogar ao chão, fazer cair, “perder”. Não se pode edificar algo novo quando a velha estrutura ainda está ali, de pé. É bom entender que para que as nossas tendas sejam ampliadas, as velhas tendas devem ser derrubadas. Na linguagem bíblica é tempo de derrubar, para que venha o tempo de edificar.
Quando vemos a vida ir ao chão, lamentamos. Quando experimentamos a perda, reclamamos. A grande sacada da vida não é viver sem perdas ou demolições, mas dizer com o profeta: “bom é trazer a memória aquilo que nos traz esperança”. A diferença entre ambos não está no passado, de glória, nem no presente, de dor, mas no futuro, naquilo que Deus edificará depois da demolição, no novo que Ele fará em nós e por nós.
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