sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ESPIRITUALIDADE

Na babel religiosa evangélica brasileira um único termo pode ter várias interpretações e aplicações. Algo simples termina por se tornar algo extremamente complexo. Para determinados grupos orar já não basta, tem que se orar da “forma” certa. Até o nome de Jesus já tem um determinado grupo que afirma que quem não pronunciar o nome certo, da “forma” certa, terá problemas burocráticos nos portões celestiais.
O evangelho é a “fórmula” simples de Deus para salvação de todas as pessoas. É o caminho santo de Deus e como diz a Escritura é tão simples que “nem os loucos erram o caminho”. Mas esta simplicidade tem se perdido ao longo dos anos, das décadas e dos séculos e alguns grupos criaram tantas regras que precisamos de novo que Jesus nos diga: “tendes ouvido ... eu porém vos digo”.
Mas ao longo da caminhada cristã tenho encontrado pessoas despersonalisadas, “libertos” com as mentes divididas, salvos pela graça que parecem carregar o fardo do legalismo, evangélicos que parecem viver debaixo da lei. Tenho encontrado “louvor” sem alegria, só macaquice, mera repetição de palavreado, mas sem vida verdadeira. É o evangelho das fórmulas prontas, das frases feitas: tá amarrado, tá repreendido, eu recebo, Oh! glória!, etc.
Espiritualidade não é isso. A verdadeira descoberta cristã é a re-descoberta da simplicidade, do caminho santo que nem mesmo os loucos erram (Isaías 35:8). Espiritualidade é viver com Deus a vida, é chamar Deus para participar da nossa caminhada diária (Êxodo 33:15), é tê-lo como conselheiro maior (Salmo 90:12). Espiritualidade é encontrar o belo nas coisas mais simples (Mateus 6:28), a eternidade num momento (Mateus 17:2-5), Deus espelhado em cada ser humano (Gênesis 1:27). Espiritualidade é re-descobrir que todo pecado contra Deus é antes de tudo pecado contra o próximo (Mateus 25:45). É olhar-se no espelho e encontrar-se com o Deus que mora em nós (I Coríntios 3:16).
O desafio é viver a espiritualidade bíblica, que transforma, que restaura, que liberta, que traz a vida de Deus pra dentro de nós. A espiritualidade que humaniza, que enfrenta as adversidades de frente, sem fugas, sem falsas promessas. A espiritualidade que crê no impossível acontecendo, mas que sabe que Deus cumpre os seus propósitos também nos espinhos que não são tirados (II Coríntios 12:9), na tragédia humana inevitável (Atos 7). A espiritualidade que aguarda o paraíso vindouro, mas enquanto ele não vem batalha para melhorar o mundo agora.
A verdadeira espiritualidade que convida Jesus a entrar, comer o pão e ali na simplicidade do fogão de lenha, na mesa da cozinha conversar com Deus, ter os olhos abertos e sair para anunciar o grande projeto e sonho de Deus para todas as pessoas (Lucas 24:30-35).

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei deste texto. Muito show!!

Wagner Francesco disse...

Gostei do texto, professor. Muito bom!