Solidão, a mais desesperadora das palavras. Sofrer ou Celebrar sem ter com quem contar. Chegar sem ter ninguém esperando, partir sem ter quem chore, estar distante e não ter pra quem voltar. Morrer sem deixar saudade. Sentimento desesperador. Antes que qualquer humano dissesse isso, foi o próprio Deus quem afirmou: “não é bom viver só”.
No final de ano participamos dos “amigos secretos” como memoriais de relações que já não existem. Amigo se tornou um pronome de tratamento e só. Amigo secreto não quer dizer nada. Quer dizer apenas o nome que me caiu por sorte para entregar um presente que não significa coisa nenhuma. Amizade baseada na superficialidade, na troca de presentes medidos pelo valor de mercado, com valores estipulados.
Amizade é um ‘sentimento’ esquecido na prateleira dos relacionamentos. É um sentimento que custa caro manter e cuidar. É sentimento cujos resultados não são facilmente mensurados, portanto não podem entrar no balanço monetário da vida capitalista. Num mundo competitivo é impensável perder tempo com sentimento tão insignificante. Num mundo de trocas de favores e onde tudo é medido e avaliado pela lógica do perder ou ganhar é loucura manter um relacionamento que “não me acrescenta nada”. E assim vamos vivendo as relações secas, numa vida desértica, que mais cedo ou mais tarde nos matará de solidão.
Amizade é aquele relacionamento que nos dá a certeza de que não estamos sozinhos. Amigo é aquele que nos dá valor como pessoa. Amigo de verdade é aquele que é “mais íntimo que o irmão”. Amigo assim, é aquele que está pronto a sacrificar-se por nós. É aquele que nos vendo em situação complicada está do nosso lado, ainda que seja para dizer que erramos, mas continua ali nos ajudando a sair da enrascada que nos metemos. É aquele que quando se dispõe a fazer algo por nós, sem que precisemos pedir. É aquele que nos defende perante outros. “Amigo é aquele diante de quem posso pensar em voz alta”, “é aquele diante de quem posso ficar calado por horas”, é aquele que me permite ter liberdade de ser quem sou de verdade.
Neste final de ano, na hora do balanço, das conquistas, dos bens acumulados é fundamental ver o quanto se investiu em amizade. Na linguagem do menestrel “faça uma lista dos grandes amigos, quem você mais via há dez anos atrás, quantos você ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais?”.
Amigo é o antídoto contra a solidão que nos devora. Amigo embora caro pra se encontrar, cuidar e manter vale quanto custa. Na linguagem do poeta, de tão caro “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”.